Ouço o som dos meus próprios passos. Todos os dias repito os gestos que me dão uma alegria que chega a doer.
Venho pra este lado da casa sento desconfortavelmente porque nem apoio para as costas, e fico no velho banco branco que já mudou comigo nove vezes. Ereta, postura que não tenho com o dia claro.
Tudo vai se confortando.
Depois é fácil, um transe, e passo a contemplar o barulho do silêncio.
É a minha madrugada, e junto dela o momento do poder absoluto perante o mundo. Tá tudo aqui.
Por trás das portas que não rangem essa hora, posso ouvir o ressonar de quatro vidas. Esse som que o silêncio me dá é perfeito. Dele discorre e escorrem muitos outros. O trem que ainda passa por esses lados e me leva pra tais momentos. Ecos e vozes indecifráveis são presentes da madrugada.
Viro-me e me escuto de novo, por dentro, pelos ossos que estalam por estarem retos. Posso ouvir o que só ouviria de olhos fechados.
Sou tudo sem nada. De pijamas, como nas imaginações. Que bom.
Nesse escuro silêncio eu leio e escrevo e ainda falo. Falo tudo no caderno de margem vermelha porque gosto dele. Falo o que virá e o que foi. À mão. Depois, ouço o que me diz que eu disse, discordo em boa parte e então, fico apenas.
Não descanso se não sentir o bônus da noite.
Ah! madrugada, você bem sabe que sempre te gostei. Fui criada pra você, pela boemia e pela contemplação.
O tempo já me deu a boemia e agora entrego pra ele a tua espera.
Fruta como botão, pretinha, redonda. Alegria dos passarinhos da árvore da casa do Seu Lauro. Feito os olhos, os meus. Eu vejo conto e invento. Eu por aqui me apresento.
15/08/2007
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- Cice Galoro
- Gosto de boniteza, de arrumação, da moda dos anos 30. De margaridas e pérolas verdadeiras. Gosto da noite, de gente dando risada, do colorido de um prato de feijoada. Gosto de sair e de mudar, gosto de família, de amigos e com eles estar. Gosto de dança e de criança, e gosto muito, muito do mar.
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