07/08/2007

doce julia

Julia é minha filha mais nova. É engraçado dizer isso quando se tem trigêmeos, mas foi ela quem nasceu 4 minutos depois da Bia e 2 minutos depois do Pedro, então pra mim é a mais nova. É da Julia também o pior lugar na minha barriga, foi ela que ficou no chamado "puxadinho" durante as 33 semanas de gestação, embaixo das costelas e espremidinha entre o Pedro e o meu peito.

Por isso nasceu menor. Bem pequenininha, um sapinho cabeludo de 1,620 kg.

Lembro de olhar pra ela dentro da encubadeira e sussurar que tudo ficaria bem. Ela me olhava e aquele olhar me dizia a força que tinha, que o fato de estar ali era apenas pra cumprir com o capricho dos médicos. E eu acreditava cada vez mais nisso quando a pegava no colo. Ela ficava encaixadinha no meu peito e seus pezinhos nem alcançavam o começo da minha barriga, mas conseguia ganhar peso, mamar e respirar mais rápido do que os irmãos e todos os bebezões que andavam por ali.

O médico, especialista trigemelar, já me dizia nas consultas que um dos três seria pequenininho porque o útero é como um copo de milk shake com 3 canudos, um sempre toma menos... Mas em compensação garantia também que é desse pequenino a personalidade mais forte, já que aprendeu na prática que na vida nada vem fácil, desde a barriga. Portanto saia de baixo, esse pequeno ser não iria levar desaforo pra casa.

Hoje, quase 4 anos depois, minha pequena Tutu que ficava poderosamente na sua macro encubadeira de barriga pra baixo, tá grande, inteligente, forte e com muito do que o Dr. Eduardo profetizou.

A Julia é uma fortaleza de olhar doce.
Nasceu pra cuidar da gente. Zelar pra que tudo fique bem, principalmente com seus irmãos.

Um dia a professora me chamou na escola pra dizer que ela mal brinca no recreio porque fica cuidando deles, uma verdadeira guardiã. Nas festas dos amigos a mesma coisa. Em casa ela também cuida, mas ao seu jeito. Bravo, decidido. No seu ambiente de domínio ela não perdoa, avança se as coisas não estão do seu agrado, mas atreva-se a olhar feio pra um dos dois que você vai conhecer a fúria da Tuca. Ela faz o tipo, só eu posso bater neles...

A Julia também é tímida, desconfiada. Entendo que isso ainda é reflexo da gestação, porque imagine você ficar escondida e tentando sobreviver por 7 meses e meio...

Mas, ao mesmo tempo, sua doçura cria lances como o de ontem, ela liga pro meu celular pra dizer que está com tanta saudades que a barriga tá doendo. Só que se perceber que eu amoleci ela diz que não era pra ter me contado, que era segredo. De todas as belezas que ela me presenteia diariamente, tem uma que eu prefiro. O melhor da minha Tutu é que é dela as gargalhadas mais sinceras, espontâneas e contagiantes.

À noite, enquanto rezo, fico pensando nela e pedindo pra que Na Senhora me ajude a criá-la sem receios, sem amarras com a responsabilidade. Livre. Mas ao mesmo tempo sei que sua personalidade já se desenhou e que invariavelmente vai viver as suas verdades.

E então Na Senhora me responde. Ela fala comigo através dos olhos da própria Julia, que da mesma forma como me olhava na encubadeira, me garantem que as 33 semanas que viveu na minha barriga ensinaram que por mais difícil que possa ser os seus espaços na vida, ela vai tirar de letra. Gargalhando.

Então eu sorrio, encho meu coração de paz, vou até a sua cama, cubro a minha caçula e continuo rezando feliz.

2 comentários:

Ana Paula Marques disse...

Cice, a Juju é nossa caçula que deixa a gente ver a alma dela pelas grandes janelas dos olhos. Dóceis, ingênuos e com vontade de segurar mais as pontas do que os outros porque ela acha que consegue.
Eu sei a Juju.

Luciana disse...

Adorei.
Assim é que se descobre a coragem e a presistência da vida.


guardadinho

eu sou

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Gosto de boniteza, de arrumação, da moda dos anos 30. De margaridas e pérolas verdadeiras. Gosto da noite, de gente dando risada, do colorido de um prato de feijoada. Gosto de sair e de mudar, gosto de família, de amigos e com eles estar. Gosto de dança e de criança, e gosto muito, muito do mar.