21/10/2012

poema da menina viajante

De véspera fico animada,
capricho de saia rodada,
ando toda emprumada,
com cara de embasbacada.

Viajar é mesmo tão bom,
flutuo por todo esse chão.
Não nego dentro do peito
o tum tum do meu coração.

Dou volta no quarteirão,
seguro no corrimão,
e como todo o feijão.

Pra disfarçar um pouquinho,
ando de frente e de ré,
coço o dedão do pé,
esmago o meu chiclé
e até limpo a chaminé.

Com cara de felicidade
sonho com a outra cidade.
Com o que vou ver e ouvir,
passar e poder sentir.

São as coisas boas da vida,
deixar de olhar pra barriga.
Sair, passear, viajar.
Fazer novas amigas.

Bem lá longe
o mar espera espumante.
Danando esse viajante,
nem precisa de avião,
anda por todo o lado,
por todo esse mundão.

Bonito que só ele é,
e eu com cara de ué,
queria saber como faz
pra sair sem os seus pais.

E o mar sabido me diz,
que o mais bacana e feliz,
é viver assim de alegrias,
com caras, bocas e rimas,
cercado de nossas famílias.

Olhos de curiosidade,
seja qual for a idade,
seja quem for, ele gosta.
Vai em todas as apostas.

Então eu entendo a verdade
de viver com liberdade,
e me preparo lindona,
eu, quem me queira e sonha.

Com dias de sol e de vento,
pro meu melhor passatempo.

13/10/2012

Educandário Espírito Santo, e um Panoca no meio

Eu lembro da minha escola, tenho tudo na minha mente. Chamava-se Educandário Espírito Santo. Era um colégio de freiras. Lindo. Limpo. Muito limpo. Não! limpíssimo. Lembro do piso vermelho da escada principal, que servia de referência para as filas que eram montadas quando tocava o sino. O sino tocava pelas mãos da irmã Claudete, uma bondade, que ia andando pelos páteos - eram três, mais a gruta (que a gente só ia em dias especiais) mais o jardim ilha, batizado por mim, que ficava no meio do páteo de dentro, todo cercadinho, e onde eu adorava tomar lanche. Mas voltando às escadas (tinham mais parques e quadras para ser justa) elas eram vermelhas e muito bem enceiradas, como a escola todinha. Os pisos para a classe eram de cerâmica antiga e originais tipo de um casarão da idade média, delicados e desenhados. Os bebedouros de um branco que você tinha gosto de beber água. Tanto o branco dos bebedouros, como o vermelho vivo das escadas, eram de responsabilidade da Dona Luzia, uma fofa, de cabelinhos encaracolados que carregava uma disposição só, no seu uniforme vinho, um mar de cores a Dona Luzia... No topo da escada vermelha eu regi o hino nacional muitas vezes, já que toda segunda-feira a gente tinha que cantá-lo. Foi assim que aprendi que a bandeira nacional precisa subir enquanto o hino toca e chegar lá em cima, junto com o final da música - coisa difícil para os brasileiros, porque nosso hino é tão comprido e as cordas da bandeira nas escolas, tão curtas. Eu adorava reger o hino, porque além de me sentir praticamente membro da aeronáutica, eu  tinha uma visão geral e ampla de todo mundo, das classes, das turmas mais velhas, das mais novas e desse jeito, eu ficava mais importante que ambas. A irmã Heloína era a diretora, rígida e bem freira... sabe, com aquela cara de freira... uma cara amoada, disfarçada no pó de arroz, com os cabelos crespos penteadinhos pra trás, mas disciplinada e competente. Se eu tivesse uma empresa de comércio exterior colocava a irmã Heloína na presidência. Ela sabia os nomes e os sobrenomes da gente, dos nossos pais, primos, bisavós, tataravós, e isso era verdade pra todos que frequentassem aquela escola. Ela mandava em tudo, sabia de tudo, colocava os professores no pau de arara. Era uma espécie de Ricardo Teixeira do Espírito Santo, ninguém derrubava. Mas inegavelmente o colégio era tão bom. Um relógio. Eu gostava da biblioteca e da Dona Deise que tinha os dentes como o do Ronaldo fenômeno, e ele sequer exisita naquele tempo. Eu amava os jogos de caracol e a amarelinha  pintados no páteo. Jogava depois do lanche. Comecei minha vida escolar lá, no método Montessori, no pré, com 5 anos. Jardineira cor-de-rosa com meias brancas e blusa branca. Lembro da tia Maraci, minha primeira professora, ela arregalava os olhos pra falar com a gente e eu nunca tive medo disso. Sempre fui um tico, pequena de mais da conta, a menor da classe, ever. O pré era um mundo mágico lá no Espírito Santo, as classes cheias de material, com um círculo no meio do chão, eram acolhedoras e organizadas. Os parques tinham casinha e balanço. Eu levava maçã de lanche e achava tudo muito bom. Na primeira série, papai se enroscou no trabalho e conseguiu que, ao menos, eu terminasse o ano por lá, mas aí eu saí. Fui parar no oposto, uma escola meio pau, perto de casa e de graça. Fui feliz lá também, mas era diferente. Não tinha escada enceirada de jeito nenhum, enceirada, talvez, só a cara de pau dos diretores que encostavam, e muito, o corpo naquela escola. Uma encrenca, carteiras em dupla, muitas quebradas e algumas balançavam bambas pelas suas idades. Mas tinha hino nacional e advinha, eu regi por lá também. Na quinta série as coisas voltaram aos eixos e eu voltei pro Espírito Santo. Voltei para os mesmos colegas, para os caracóis, e fui feliz até a oitava série, que era o último ano que a irmã Heloína permitia na escola. Mamãe acha até hoje, que por conta da minha excursão de 3 anos pelas feiras livres* enquanto estive no Panoca - Paulo Novaes de Carvalho, a escola não enceirada, quando voltei para a mão das freiras, só o terço poderia me ajudar. Passava sempre no fio da recuperação (até repetir a oitava série), por vezes até por ser popular e participar de tudo que a escola promovia. Eu amava o teatro, tinha acústica, bons lugares, camarim e muita seriedade - Fui Chicó e arranquei risadas e aplausos fervorosos dos colegas. Amava jogar basquete, mesmo sendo aquele tico de antes. Amava promover as gincanas e levar lanches para arrecadar dinheiro para os interesses do Centro Cívico, no dia da cantina dos alunos. Amava a professora de História, Dona Conceição e a de Português Maria Aparecida, que fazia a gente ler "Tibiquera" em voz alta, valendo nota por entonação e leitura absolutamente corretas - não podia ter um engasgo. Eu amava as minhas amigas Carla, Pó, Katia, Shigui e Simone e os meus amigos Pelé, Flávio e Mauricio, companheiros de conversas e risadas. Eu não amava, mas não odiava as professoras Irene de Matemática e Nilce de Inglês, e gostaria aqui de lembrar o nome da professora de Francês, une poupée. O Espírito Santo tinha janelas de vidros grandes, que abriam como a das casas e uma Nossa Senhora toda branca, bem na frente da escola, na porta principal que não era de uso dos alunos, mas por onde, geralmente, eu saía porque o portão já havia sido fechado. Essa porta alta, de madeira avermelhada era seguida por um portão menor automático chiquérrimo - coisa que só freira tinha naquela época. Grandes lembranças eu tenho desse tempo, mesmo do Panoca. Escolas que marcaram minha infância e que me fazem hoje saudades. Certamente, se ainda morasse no Tatuapé, levaria meus filhos no Espírito Santo, tentando talvez assim, esticar a minha infância verdadeiramente feliz.

* O Sr. Miguel, meu professor da quarta-série, levava a gente na feira livre que tinha em frente a escola Paulo Novaes de Carvalho para ajudá-lo a comprar frutas e carregar as sacolas. Sim, na hora da aula! e, Não, a gente não contava para os pais! Era uma hora divertida - e aqui mãe, te digo que talvez essas tenham sido horas pelas quais, lá no Panoca e também no Espírito Santo, eu tenha tido grandes aprendizados.  ; )

guardadinho

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Gosto de boniteza, de arrumação, da moda dos anos 30. De margaridas e pérolas verdadeiras. Gosto da noite, de gente dando risada, do colorido de um prato de feijoada. Gosto de sair e de mudar, gosto de família, de amigos e com eles estar. Gosto de dança e de criança, e gosto muito, muito do mar.