Fruta como botão, pretinha, redonda. Alegria dos passarinhos da árvore da casa do Seu Lauro. Feito os olhos, os meus. Eu vejo conto e invento. Eu por aqui me apresento.
18/08/2007
autópsia
Ele abaixou em busca do couro gasto, parecia incrível mas a casa fazia de propósito ao enfiar o pisante por entre tantas tralhas, e sempre. Calçou e fez o caminho desenhado pelos anos agora de dia. Era a única diferença. Sentou-se naquela cadeira puída, que o fez em horas extras por muitos finais de semana insistente por trocar o tecido, e ela desafiadora continuava ali descorada. Até aquele momento o único presente na vida de pretéritos era o jornal que abriu na página de futebol. Não teve jogo do seu time, então nada interessou. Pelas grossas lentes embaçadas até tentou ver outro assunto, mas nunca soube o que é curiosidade. Então os pensamentos chegaram junto com o barulho das crianças da rua e ele ficou de frente com a alegria decepcionante pela primeira vez. Por anos escolheu o que não escolheria, bradou entre aquelas paredes emprestadas brigas e receios, viveu cada minuto cuidando para que tudo desse certo dentro de uma caixa de erros, e agora estava lá. Foi levado pela dúvida até a janela e o pó que subia dos pés da bola de capotão lá de fora, se misturava com as risadas daqueles pequenos que um dia poderiam estar como ele. Que jeito não, se o lugar convidava? se tudo exigia assim? Por um instante da vida toda teve um sentimento. Dó de si mesmo por acreditar em tantas mentiras contadas por cada canto do mundo. Tentou ter coragem de dizer isso pela janela, alguns ouviriam e mudariam seu curso, mas o peso do tempo, habituado a ser desse jeito, calou o único sorriso possível. Então, voltou ao jornal de ontem antes que ele fosse embrulhar as frutas porque tinha alguma coisa do seu time, e num último lampejo ele viu que por entre as lentes grossas jamais enxergou o hoje. No ontem via o amanhã, e agora que era amanhã não enxergava mais nada. Nessa conclusão, fechou as páginas do momento e arrastou os chinelos até a cama esperando.
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- Cice Galoro
- Gosto de boniteza, de arrumação, da moda dos anos 30. De margaridas e pérolas verdadeiras. Gosto da noite, de gente dando risada, do colorido de um prato de feijoada. Gosto de sair e de mudar, gosto de família, de amigos e com eles estar. Gosto de dança e de criança, e gosto muito, muito do mar.
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