04/05/2009

uma andorinha só não faz verão

Naquela praça ela esperava a hora das andorinhas. E elas vinham muitas, altas, voavam em partituras. Um canto. Ela de baixo olhava e sentia-se no espaço, única hora de lucidez. Arrepiava-se com o bater daquelas milhares de asas. Era um zigue-zague frenético, enlouquecedor. Vinham de vários cantos e juntavam-se frente a frente sem se bater. Enlouquecidamente virando, voltando, vindo, zuando. Uns 20 minutos todos os dias do verão. Num rasante elas desapareciam como areia descendo pelo funil. Areia escura e densa num funil estreito. E acabava. Tudo.

Naquela praça em que tantas vezes se escondia, hoje aparecia. Mas só pras andorinhas.

Pra ela, um fio de vida só recomeçaria no dia seguinte, e enquanto fosse verão.

Depois tudo se ia, e com tudo, sua capacidade de admirar e ver qualquer coisa, mesmo que fosse por 20 minutos apenas.

Ela amava as andorinhas, mas odiava a pena dos homens.

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Gosto de boniteza, de arrumação, da moda dos anos 30. De margaridas e pérolas verdadeiras. Gosto da noite, de gente dando risada, do colorido de um prato de feijoada. Gosto de sair e de mudar, gosto de família, de amigos e com eles estar. Gosto de dança e de criança, e gosto muito, muito do mar.