14/05/2009

poeira

Era de cagar. Todo dia tinha ele que fingir não saber as intenções escondidas embaixo daquela plataforma de plástico pintado, que imitava o couro. Começava daí, da verdadeira altura que também era uma mentira. E ele, com o saco de jó que Deus lhe tinha dado, ia levando.

Que palhaçada essa mulher tinha feito? Até desconfiavam de coisa esquisita, macumba mesmo nas encruzilhadas, e tudo. Mas ele ia deixando sei não porque. Talvez de um certo modo precisava ser usado, ué, vai que tinha sido Calígula na encarnação de antes...

Ninguém se conformava porque era claro feito holofote na quadra, só que o medo, parecia, deixava o dedo do home longe do botão de desliga.

Só que eu, e a vizinhança também, fomos percebendo um olho meio de esguio, um bufar de canto de boca que ele vinha dando pra cada palavra a toa que ela soltava, e como eram muitas, o nego foi alargando, ficando igual urso saindo de hibernar.

Um dia foi a conta.

Cê pensa que ele fez estardalhaço? fez não. Levantou, sacudiu a poeira, e até hoje ela não deu a volta por cima.

Um comentário:

Vanz disse...

Um traço d'eu adoro isso está fincado aqui. Ò cice, ler você faz tanto bem.


guardadinho

eu sou

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Gosto de boniteza, de arrumação, da moda dos anos 30. De margaridas e pérolas verdadeiras. Gosto da noite, de gente dando risada, do colorido de um prato de feijoada. Gosto de sair e de mudar, gosto de família, de amigos e com eles estar. Gosto de dança e de criança, e gosto muito, muito do mar.