13/10/2008

com costura

Saia rodada, de baixo do joelho. A barra era bem feita, nada de pé de galinha ou pontinhos aparecendo. Ela fazia concentrada as cianinhas pela volta toda. Costurando deixava-se levar pelos pensamentos, igual pescar, que não adianta querer pensar em outra coisa. E lá no vai e vem da fininha agulha que resistia ao brim, ela passeava por jardins enormes, por castelos e por vilas. Gostava das coisas imensas, mas as vilas tinham charme então podiam entrar ali. Cada curva da cianinha verde era um lugar diferente, e ela andava de charrete, corria pelas praias, é tinham praias também. Faltava um grande amor, um homem com a beleza máscula que importa. O rosto? não vinha, não vinha de jeito nenhum. Então ela picava o dedo, que raiva que tinha. Tava tudo tranquilo com as paisagens até ele entrar, ou melhor, não entrar na história. Aí ela olhava a saia que começava a ficar torta. Puxava a linha e voltava um bom pedaço, se desconcentrava pra se concentrar de novo e nem conhecia Yoga. De novo a barra, de novos os lugares mágicos e quietinha ela torcia pra pensar no seu amor mais tarde, porque a encomenda tinha que ficar pronta até às seis horas, e sua reputação não podia ser riscada, já que era a costureira mais caprichosa dos sete quarteirões que conhecia.
Pronto, final de saia, final do carretel das cianinhas, nada do grande amor mas o começo de mais uma esperança, afinal haviam mais três encomendas.

Um comentário:

Ana Paula Marques disse...

Ai, costurei eu mesma enquanto li.


guardadinho

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Gosto de boniteza, de arrumação, da moda dos anos 30. De margaridas e pérolas verdadeiras. Gosto da noite, de gente dando risada, do colorido de um prato de feijoada. Gosto de sair e de mudar, gosto de família, de amigos e com eles estar. Gosto de dança e de criança, e gosto muito, muito do mar.