04/07/2008

bendito seja

A porta abriu. Sem nenhum problema aparente ela entrou, mas a dificuldade era grande. Aquelas sombras de plástico vinham pra cima dela. Todo o santo dia a mesma ladainha, dava pra ouvir cada amém, mesmo mudo, das mentes abatidas. A reza era a penúltima chance. O trajeto era pequeno, o do corredor e o do percurso, só que naquela situação era infinito. Um caos. Caos maior era o desejo dele, mas fazer o que? Enquanto ela empurrava tudo a sua frente ia pensando porque os sujeitos dividiam esse espaço com tanto conformismo. Até que não precisaria ser tão ruim, bastasse que olhos se cruzassem, quem sabe até um desejo mundano poderia correr solto naquele aperto, mas democraticamente os personagens preferiam aquilo mesmo. Sempre a mesma coisa. A ladainha. De repente, num dia qualquer alguém decidiu mudar, pelo menos misturar tudo. Sombras, fios, coisas, medos, umas alegrias escondidas. Chacoalhou a rotina e o amém saiu bem alto, aos gritos. Santo Deus um milagre. Notaram-se, viram-se e depois cairam na gargalhada. Depois daquela freada nunca mais a vida foi a mesma. Nem dentro, nem fora do onibus 407-C que seguia para a Zona Sul.

Um comentário:

Vanz disse...

você me inspira.


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eu sou

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Gosto de boniteza, de arrumação, da moda dos anos 30. De margaridas e pérolas verdadeiras. Gosto da noite, de gente dando risada, do colorido de um prato de feijoada. Gosto de sair e de mudar, gosto de família, de amigos e com eles estar. Gosto de dança e de criança, e gosto muito, muito do mar.