Parecia sempre que tudo ia bem. E ia, mas os segundos insistiam para tirar esse sentido das pequenas coisas da frente e enfiar ali, naquele lugar minúsculo e tão sutil, um bocado de sensações e expectativas. Que palavra chata alguém insistiu em criar quando tratou de expectativas. Então tudo o que estava fluido começava a criar bolhas de ar sufocantes e o pensamento dominava a paz da mente. Era hora de encontrar qual seria o seu caminho. Todo mundo ao seu redor já parecia ter encontrado, mas seria verdade essas imagens abundantes? Será que é mesmo necessário, importante ou simplesmente bom partilhar o que é só seu, ou deveria ser? Porque vivemos de ver e ser vistos ? Até onde esses relacionamentos nos levam ou nos tiram do caminho? Quanto há de egoísmo no mau humor? e no bom? A profundidade deveria estar nessa troca rasa de emoções? Certamente não. Quanto mais o homem avança na necessidade de se mostrar ao outro, mais ele se esconde e esconde o outro de si mesmo que passa a viver vidas alheias. Aquilo que está escondido, os segredos, o silencio da mente esconde a grande sabedoria da vida. No final aprenderemos que não é preciso dizer nada para termos tudo.
Fruta como botão, pretinha, redonda. Alegria dos passarinhos da árvore da casa do Seu Lauro. Feito os olhos, os meus. Eu vejo conto e invento. Eu por aqui me apresento.
12/01/2025
Integração
Como pode ser tão difícil entender que somos a Terra e a Terra somos nós. Do pó viemos e ao pó voltaremos, é tão simples. E mesmo que ainda assim, seja esse saber uma venda em nossos olhos, impossível deixar de reconhecer que dependemos do chão para fincarmos o pé da sobrevivência e da evolução humana. Porque é do chão que iniciamos a escalada, daquilo que plantamos e colhemos, o que nos alimenta e nos faz saudáveis para sentirmos o todo, o absoluto.
Tudo igual no bananal
Com essa minha mania de mudar, experimentar, conhecer, lá por 2000, 2001 eu acho, tive com meu irmão uma agência de turismo. Era diferente dos modelos tradicionais, trazia a minha vivência com marketing e era pioneira em roteiros personalizados, um negócio bem legal que um dia posso contar aqui. Mas não é por isso que estou escrevendo, comecei por aí porque a DRO (era o nome da agência) me mostrou o lado B de tudo o que a gente imagina que só tenha o A. Como a gente fazia roteiros para uma turma que estava atrás de experiências personalizadas, conhecemos os bastidores de muitos lugares, desde hotéis de luxo, restaurantes caríssimos, palcos de espetáculos famosos, salas vips de diversos estabelecimentos e muitos outros lugares que enquanto clientes ou sonhadores em ser clientes a gente imagina a perfeição e óbvio, não é. Esse negócio, mesmo não tendo evoluído como a gente queria, foi muito importante e bom para mim. Foi a partir dele que aprendi a não me deslumbrar com nada, a ver que realmente ninguém é melhor que ninguém, e a ter sensibilidade para olhar para dentro dos lugares através dos dois olhos que são iguais para todo mundo.
Espelho
Tinha sempre em mim uma mágoa descabida. De tão boa era feita minha vida, porque será que tantos rasantes me entristecem, coisas que achavam minhas se iam para as mãos de quem não queria que fossem. Fugiam para tão perto. Era assim um quê de engraçado esse negócio de escapar de mim o que eu mesma tinha de tão bom. Era como se não deixasse que fosse meu, vontade de brincar com a felicidade para que ela ficasse triste. Um sal na boca o tempo todo, de alegria para voz rouca de engasgo na garganta.
Reza
A calma do tempo, era assim que ela rezava e nas suas orações pedia para que todo mundo pudesse sentir esse amor quieto e livre, sem pressa, só deixando o vento bater no rosto, procurando os cantinhos da casa, os esconderijos na alma. Tudo pra ver se dia desses, o pai ruim que era, juntava como aquelas outras pragas do inferno e amoleciam o coração, deixando esquecer de cutucar ela de noite, porque era a deixa de pegar a estrada e ir ver se o mar tinha mesmo espuma e se era salgada, porque assim pela foto da revista, sua única companheira, ela tinha certeza de que era doce.
De muitos carnavais
O carnaval vai indo... nos alegramos mais um ano. Muita gente foi foliar pra valer. Não eu, fiquei aqui de olho nas descobertas desta alegria, nas cores dos olhares, nas fantasias que são mais do que as que vestem os brincantes, elas que surgem corajosas nos pensamentos de quem vive um estado de liberdade, mesmo que em um segundo. Que elas perdurem, não murchem, não esperem o ano que vem para serem felizes. O carnaval é um estado de saída, de transição de um vc carregado de coisas para um novo vazio e otimista. As manifestações são bem vindas para que o nosso modo de agir por conta delas mude, se continuar igual depois, não era carnaval, era só uma ‘amostração” mesmo. Faça ser carnaval.
O carnaval tá indo, e que bela festa esse ano. SP capital deu um show com tanta gente bonIta enchendo as ruas e avenidas sempre carregadas de gente só, individualistas dentro dos carros, nesses dias vieram lotadas de todo mundo junto, sem medo encostar um no outro, não é legal?. Salvador deixou a marca nos bastidores, o nascimento das gêmeas e o passar o bastão do expresso 2222 de pai para filha. O meu Recife sempre na tradição do frevo que ferve o centro, a praia, as ruas, aeroporto, shoppings, ladeiras, numa misturada só. E o Rio, ah o Rio, que é a terra do carnaval legítimo do Brasil, arrepiou com suas escolas fazendo do carnaval o carnaval mesmo, uma festa de manifestações do povo, daquilo que vc tá engasgado na goela.
Descorporativo
Ando ocupada comigo. Me olhando, meu cuidando, me respeitando. Dou like pra mim vira e mexe. Com isso, fiquei mais atenta ao outro. O que já sempre gostei de fazer, olhar dos lados, ver o que se passa, ganhou um quê diferente. Quando você vê o outro sabendo de si é bem bom, porque você pode dar dez passos pra frente ou dez pra trás, dependendo do que você sente. Outro dia recebi um convite para ir a SP em um seminário de assuntos que não me interessam mais, um bom tema e o convite mais ainda porque o valor da inscrição era bem salgado. Tinha que confirmar e tudo, aquelas coisas - afe, super disputadas. Mas eu não fui. Não quis. Deixei pra lá essa "super oportunidade". Já fiz tanto seminário nessa vida, só por deus... e vamos combinar, entrei no link e vi aquelas pessoas com umas caras de passado. Reciclar é bom e tal, mas acaba que ultimamente é o mesmo assunto sempre - uma ou outra novidade que eles chamam de inovação, e que não faz mais gosto pra mim. Amanhã eu não sei, mas no caso, pronto, preferi ficar aqui, ouvindo minha música, falando com as minhas plantas, na companhia dos assuntos que eu escolhi. Certificado de conclusão bacana eu me dei nessa. Curti!
Papa Francisco, um milagre
Olha, eu sou católica. Sou mesmo! vou à missa todos os domingos e quem me conhece sabe que eu acredito em Nossa Senhora, em São Pedro - aquele teimoso, e que essa foi a minha escolha. Por isso hoje é um dia especial pra quem é como eu. Isso não tem nada a ver com acertos e erros, ou com merecer ou desmerecer quem não é, mas a liderança que a igreja católica representa não pode ser ignorada. Minha fé se alegra nesse momento ao ver que nessa escolha muitos protocolos caíram, que o meu próprio preconceito, quando ouvi: é Argentino, foi por terra quando ele escolheu ser Francisco I e apareceu na janela com aqueles olhos do bem, e agora tantas piadas já estão permitidas porque o importante foi sentir um olhar mais humilde, uma vida mais progressista e uma autoridade que primeiro abaixou a cabeça para a multidão e pediu ajuda nessa missão.
Lolô 14
Lolo
Ver por dentro
Achei meus óculos. Ah, sim.. o que você tem a ver com isso? Aparentemente nada, mas até pode ser uma boa história para dividir numa sexta 13...
Na quarta-feira fui com o Pedro cortar o cabelo. Passei o tempo do corte trabalhando no celular e nem quase bati papo com meu querido amigo Thiago. De óculos no rosto escrevi vários e-mails. O dia tinha sido corrido e na volta de baixo de bastante chuva, vi pelo vidro do carro que a porta do registro da água aqui de casa estava aberta. O gordo não gosta que aquela portinha fique aberta e nem eu. Parei, coloquei metade do corpo pra fora, abaixei e fechei.
Depois do jantar, já depois de tantas coisas, fui ler um tico, mas cadê meus óculos? Sem ele nem pensar em ler nada! Nada.. procurei em tudo que é canto, eu, Neninha, Pedro, depois as meninas, olhamos por todos os lugares. Esqueci no salão...
Não li, não joguei candy crush (eu jogo ainda) não deu, sem ver?! No dia seguinte uma voz no meu ouvido, olha no portão da sua casa.. claro! Mas quem será que tava dizendo? Sai pra ir pra Allma e achei que deveria parar no portão... parei, olhei, mas fiz assim assado, sabotando a parada. Não achei! Sofri sem enxergar de dia, liguei no salão 1789 vezes pedindo para eles encontrarem. e a voz lá, vê no portão da sua casa... mas eu já vi! Não tá voz, entendeu? Outra noite sem ver.
Dia seguinte, hoje... olha no portão da sua casa. Eu ouvia perfeitamente. Sai descididona a olhar, apesar de já ter olhado... só que hoje desci do carro, fui por reparo, de perto, dar foco e fazer direito o que estavam me pedindo. Tcharam lá estava ele, soprado por Deus para o meio dos bambus, assim o carro do gordo não amassava o coitado. Incrível como teimamos com os fatos, é assim com tudo, óculos da alma que a gente sabe onde procurar, mas demora pra ter coragem de levantar, sair do carro e por reparo.
Crespo
Sentir é crespo eu penso, porque não pode ser liso esse jeito de dar eco no peito. A cabeça manda num tudo, mas é o coração que decide o instante.

eu sou

- Cice Galoro
- Gosto de boniteza, de arrumação, da moda dos anos 30. De margaridas e pérolas verdadeiras. Gosto da noite, de gente dando risada, do colorido de um prato de feijoada. Gosto de sair e de mudar, gosto de família, de amigos e com eles estar. Gosto de dança e de criança, e gosto muito, muito do mar.