28/02/2013

de livre arbítrio, renúncias e amor

Leiga, sim. E que bom que seja dessa forma, porque todo mundo deseja descobrir algo que ninguém jamais poderá afirmar. Supor está às ordens, mas por favor que se tente, ao menos, respeitar o ouvido alheio.

Me deu vontade de escrever sobre a renúncia do Papa. E só hoje. E não porque foi sua última aparição pública, mas porque sim. Desse jeito, como resposta que se dá às crianças quando não temos argumentos ou quando educar não precisa de justificativas. E nesse desejo eu exponho impressões minhas e já me desculpo antecipadamente, pelo modo como as coloco.

Para mim é assim: O Papa Bento XVI será melhor sem as honras, aliás já é melhor sem as honras. E ele nem sabia disso quando todo pomposo, preconceituosamente intelectualizado e fashionista, vestiu o anel de São Pedro. Porque cá pra nós, a figura humana desse senhor é outra hoje, e ao invés do que tantos podem achar, ele ficou mais bonito, mais jovem e leve e, certamente, muito mais sábio agora.

O que está claro é que Jesus toma conta daquela cadeira. Qual é? a cadeira do seu melhor amigo você também não cuidaria? Por ali, por aquele luxo todo, cerimoniais e políticas, reina sem dúvida a misericórdia de Deus. E não há como manter-se sem ela no meio daquele colosso. O Papa Bento sabe bem disso agora, e muito diferente do dia 19 de abril de 2005, ele deixa tudo pra ganhar uma coisa apenas, a coerência de sua crença.

No meu modo de ver, a renúncia pouco importa, porque nunca acreditei que Deus pudesse julgar os nossos atos. Se fosse assim o livre arbítrio era uma balela, e eu acredito muito nele. Tanto que Jesus tinha tudo pra escolher outro caminho, mas decidiu, sozinho, abrir seu espírito a Deus e seguir seu destino. Antevendo quem Ele era sem de fato ter plena certeza (lembra do: "Pai, porque me abandonaste?" aos 45 do segundo tempo?)

Ouvi pessoas dizerem nesse período desde a renúncia, na verdade dizerem não, misturarem alhos com bugalhos, coisas do tipo: Ah, se o Papa renunciou porque o casamento não pode ser desfeito? Porque a igreja condena os gays, porque padre não pode casar? porque, porque? vira tudo motivo de panelaço...

Eu nunca me importei com isso, prova é que casei com um cara divorciado e to cheia de amigos gays.  Na minha vida sempre entendi Deus como sinônimo de amor, e assim vivo apegada a Ele, pedindo, agradecendo, rogando perdão, procurando sempre ficar em torno do amor.

Mas também não posso deixar de reconhecer que é preciso regras e orientadores pra nos ajudar no entendimento desse amor. Leis escritas com o dedo de Deus no sentido do amor verdadeiro e não dos modismos e badulaques.

Um casal deve manter-se em união. Deve. E aí entra a resignação, o perdão, a dor. Porque ninguém ressucita sem antes ter morrido, e as pessoas querem ressurgir do que ainda nem acabou de verdade, nem sabem porque tomam certas atitudes. Vivem por conta da intolerância e das tentações do diabo, que vem sim, oferecer o caminho mais curto. Banana pra você diabo. Sigo na pindaíba, mas não te entrego o meu amor de bandeja.

Aí voltam as pessoas, pré-julgando uma decisão através da crítica, mas sem qualquer atitude. Metendo a boca na igreja. Entendo que muitos prefiram as decisões rasas, descobrindo com surpresa que padres não são santos. Han, han, não são não... Eu trabalhei na igreja como secretária paroquial. Madona Mia, eu via cada padre do mal. Ninguém é santo, e esses padres que agem fora de suas promessas, agem fora do amor como qualquer outro cidadão que também faz uma promessa e não cumpre.

Mas como os bons são a maioria, ainda tá cheio de nego honrado pelo seus dons e pelo exercício deles. Os padres, como em qualquer outra profissão, que cuidam disso, vivem com respeito e , sim, têm um papel de liderança. Um exemplo em minha vida do que é respeitar suas escolhas, foi o Padre Fidelis.

Quando eu econtrei o Cesar e vi nele um amor que iria me transformar numa pessoa melhor, a gente decidiu casar. E eu, filha de dois carolas de igreja, cria de missa desde pequenininha, professora de catequese, fui lá dizer pra ele: Padre, e agora? E ele disse: Preste atenção no que vou te dizer, a união em casamento de duas almas é uma decisão solene. Lembre disso! Porém, o ritual é apenas o ritual. Tá certo... você é católica e a igreja católica não permite, em suas regras, que você case aqui, mas você sempre soube disso também, então não deveria ser motivo de agonia. Agora, se está segura da sua decisão digo, quem te falou que Deus é católico? Não acha que é substimar demais o Nosso Senhor? Deus estará com vocês se vocês estiverem Nele. Que seja sempre assim.

E eu casei bela e fregue, feliz num ritual um pouco diferente da minha religião e ainda com uma pá de padres do bem, convidados e presentes na cerimônia e depois na festa. Eu recebi a benção de Deus, eu sei. E é com esse compromisso que eu me deparo nos momentos de tensão, aqueles que a gente quer jogar o marido pela janela.

No domingo passado, na missa, aprendi um bocado de coisas que já sabia. Já tiveram essa sensação? Você já ouviu muito algo, mas em determinado momento aquilo vira aprendizado real. Você entende. A missa foi celebrada por um ministro, um rapaz casado, com família e merecedor do dom da palavra de Deus. Ele ali, ajudava a igreja que está carente de missionários, e fez uma celebração belíssima, iniciada pelo esclarecimento de que celebraríamos a Palavra, e não a Santa Missa.

Sua homilia falou do milagre da transfiguração de Jesus, presente no evangelho do dia, e eu entendi tudo (inclusive aí, a renúncia do Papa). Jesus muda sua aparência aos olhos de quem passa a acreditar no milagre. Translúcido. E pouco importa o que estiver ao redor. Basta isso, passar a acreditar, tá tudo ali.

Falou ainda para pensarmos na atitude de Jesus toda vez que precisava tomar uma decisão. Ele sempre subia a montanha, procurava o alto, o isolamento para rezar. Porque a oração é a resposta.

Eu olho para o Papa hoje e vejo uma transfiguração, e ela não tem nada a ver com doença do corpo, nem com 86 anos. Ela escancara uma mudança em alguém que dobrou os joelhos e humildemente saca fora dos pés os belos sapatos vermelhos, para gerar um alerta vermelho à igreja. Um alerta necessário.

E por final apenas um último detalhe: A igreja não são os bispos todos com a batina bem passada lá em Roma. Aquilo é um ritual, apenas um ritual e sempre será assim, mas a igreja verdadeira, meus caros, somos nós. E a decisão em atitude individual que tomamos ao seguí-la. Estamos seguros disso?

O alerta vindo pela renúncia, é para todo o mundo.

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Gosto de boniteza, de arrumação, da moda dos anos 30. De margaridas e pérolas verdadeiras. Gosto da noite, de gente dando risada, do colorido de um prato de feijoada. Gosto de sair e de mudar, gosto de família, de amigos e com eles estar. Gosto de dança e de criança, e gosto muito, muito do mar.