08/03/2013

Maria Luiza Capassi Padula

A bivó na minha infância, vivia sentada numa cadeira de balanço, com um sueter azul royal, cabelos brancos penteados de lado, portadora de cegueira pela idade e mãos trêmulas pelo parkinson. Mesmo sob essa figura, eu com meus 6 ou 7 anos, nunca a enxerguei fragilizada. Aliás, a gente chegava lá para vê-la, não como uma visita, mas como que para dar a satisfação da semana, sem que ela nunca tivesse pedido. O tempo passou e eu quis saber mais sobre a bivó, porque a morte enterra o corpo, mas desenterra as curiosidades e as lembranças. Perguntas como: Quem era a amiga que posava elegantemente ao seu lado no retrato tirado em 1935, mais ou menos? Como ela tinha uma loja num tempo que mulher não trabalhava? Com quantos anos ela casou com o meu bisavô e porque ela casou com ele, se eles eram tão diferentes? Como ela tinha dinheiro e ousadia pra viajar sozinha, de férias? e como fazia para enfrentar todos os limites sociais impostos às mulheres... E as respostas vieram. A Véva era uma grande companheira numa época em que as mulheres mal podiam abrir as janelas, quanto mais os olhos ou a boca para serem amigas. Parceiras de ideais e diversão, numa amizade fiel e da vida toda, e quem sabe mais o que... Dona Maria Luiza casou tão nova, porque era assim naquele tempo. Com o casca grossa do meu bivô, porque assim era também, mas nunca deixou as coisas por isso mesmo. Era virginiana e resolvida. Mãe da vovó Concheta (que perdeu uma grande oportunidade de seguí-la em pensamento). Era uma mulher de fibra, que começou um negócio vendendo roupas para fora, de casa em casa, e fingia pro seu Padula fazer o que ele mandava. Foi ela, ela! não eles, quem teve o primeiro telefone do bairro, que administrava os filhos e o trabalho, que enfrentava o meu bisavô e suas ignorâncias com inteligência e porrada, quando era preciso - e de frente hein, nada de esperar o cara dormir. Tipo UFC mesmo. Uma mulher que ultrapassou os limites sociais porque tinha coragem e coração liberto. Que abriu seu próprio negócio na luta, na habilidade de gestão e de liderança (uma loja de aviamentos linda, linda). Que tirava férias e usufruia do dinheiro, gastando nos hotéis mais caros das cidades que conheceu, com os netos e quem a acompanhasse, porque ela ia. Que se amava primeiro e amava quem quisesse o seu amor. E quem não quisesse, pra ela, ó...
A minha bisavó foi uma mulher destemida. Uma italiana vaidosa e firme, que não ligava para as convenções. Talvez hoje ela dissesse, "belaroba esse dia", mas é por causa de pessoas como ela, que o dia vale as homenagens.

Bivó, eu acho que carrego um tico-tico de você. Mamãe ficou com boa parte, a Lu com outra, inclusive o seu nome, mas eu tenho uns tiques teus.

Que bom!

8 de março - Dia Internacional das Mulheres, como a bivó.



6 comentários:

Jeferson Cardoso disse...

Oi Cice!
Fiquei com saudades de minha avó. Aos 28 anos, grávida de 7 meses e com dois filhos pequenos, meu pai com 2 anos e minha tia com 4, enviuvou. Como uma boa portuguesa, abriu uma ‘portinha’, uma mercearia.
Deixo aqui a minha homenagem para o Dia Internacional da Mulher. Parabéns mulher! Parabéns pelo ser extraordinário que você é. Parabéns por gerar o mundo, ninar e cuidar. Parabéns pelo encantamento que se desprende de você!
http://jefhcardoso.blogspot.com lhe convida e espera para ler e comentar “O último choro”, a despedida de Chorão. Abraço e bom final de semana.

Cice Galoro disse...

Oi, Jeferson. Obrigada pela mensagem carinhosa. Vou te visitar no //jefhcardoso, podexá. :)

Anah Granger disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Cice Galoro disse...

Oi, Anah, que legal!!! mas fiquei tão curiosa para saber de você... desculpe, mas como te identifico? conta,conta!!!

Rogério disse...

Oi Cice, agora desfeitas as dúvidas com minha filha, não podia de deixar de comentar sobre sua Bivó ou minha Avó, ou mesmo Vó como costuma eu dizer. Lembro quando era criança, na casa dela hvia uma mesa e cadeiras onde todos juntos ficávamos vendo tv. CAdeira tambem que a Veva se apoiava por dificuldade de locomoção
Um belo dia enquanto o Seu Padula estava trabalhando, esses móveis simplesmente foram substituídos por um conjunto de sofás. Ao chegar a noite do trabalho eu só ouvia o homem fazer o maior escandalo, barulhos, berros e eu com medo de chegar perto rsrsrs. Só sei que de nada adiantou o show
pois o troço estava feito. Isso me mostrava a independência que ela tinha em relação ao marido mas tambem a liderança sobre a família.
Ela tinha um amigo ou conhecido que tinha uma loja de brinquedos na r. Antonio de Barros onde no dia do meu aniversário ela me levava e deixava escolher um presente. Lembro perfeitamente disso e um joguinho de química que ela me deu de presente. Apesar da época dífícil ela ia à Santos de táxi ( e marcava a volta com o taxista) onde levou de netos eu e sua mãe além da Rosa e da Memé. E obviamente lembro de voces chegando e como vc disse, não era visita, mas também não era uma obrigação. Era prazeiroso termos uns aos outros quase que diariamente. Tenho algumas lembranças bem nítidas desses
dias. Por fim me desculpo por ter apagado a postagem anterior, mas não podia deixar de registrar momentos e pessoas que tambem foram muito importantes na minha vida; tão importantes que minha filha também é Luisa (com s). Acredite: sei que momentos como esses um dia voltarão, só não sei quando...

Cice Galoro disse...

Ah, Géu que bacana! bacana até você ter descoberto que a sua Ana Luisa tem um blog, rsrsrs. Amei o seu comentário, você que viveu bem do ladinho da bivó e era um dos primogênitos no meio d netaiada dela. Somos privilegiados, né? grande beijo pro cê. :)


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Gosto de boniteza, de arrumação, da moda dos anos 30. De margaridas e pérolas verdadeiras. Gosto da noite, de gente dando risada, do colorido de um prato de feijoada. Gosto de sair e de mudar, gosto de família, de amigos e com eles estar. Gosto de dança e de criança, e gosto muito, muito do mar.