
Tenho recebido muito carinho, muitos cuidados vindos de lá e de cá. Obrigada. Estou bem. A sensação é de profunda tristeza, leve. Será que isso se explica? Não há o que faltou nem o que sobrou, a fé escancarou-se, a certeza também. Há eternidade.
Papai sempre foi um homem alegre, otimista. Não sabia debruçar sobre problemas, não conseguia lamentar-se, nem ver dificuldades. Sempre optou pelo lado da crença, do presente, dos sonhos, de realizar hoje, falar, brigar, amar. Perdoar e pedir perdão só se fosse agora. Não fazia drama, gostava de contar casos e piadas, era atento. Aprendeu o que deu, e sabia de tudo. Amou muito. Amou a mamãe, cada um de nós, dos netos, dos amigos e amou a si mesmo. Foi fiel. Foi ele.
A morte é muito consternante. Priva-nos da visão, do som da voz, da rotina da presença. Mas a morte também é aliviante, é a chance de recomeçar, de fazer tudo o que talvez já não desse mais. Deus é misericordioso e nos carrega no colo na dor. Estar aberto pra Deus é impagável e imprescindível. Ah, eu agradeço cada segundo de hoje. Agradeço por todos os segundos que vivi ao lado do meu pai amado, e todos os que viverei ainda ao lado de tantos que me querem bem. Estou em paz. Com o coração leve, leve. Sentindo sabores que nunca senti, enxergando o que já via de um modo que nunca percebi antes. Sentidos ampliados, acústicos.
Quero agora manter-me assim, seguindo os sábios e diários conselhos do Seu Pedro, vistos de forma tão simples. Quero deixar tudo o que vivemos, as boas sensações voarem alma adentro. Quero viajar, ir pra onde se desejava. Estar e estar com minha mãe querida. Minha mãe é forte e uma grande alma. Meu amor, minha melhor amiga. Quero estar com meus irmãos, meus sobrinhos, cunhados, com meu marido e meus filhos e minha família e meus queridos amigos.
Quero só isso, e tudo isso. Quero continuar tudo por causa do papai. Que ensinou a gente assim, e se foi apenas daqui dos meus olhos, só do contato dos meus olhos. Mas que vive, como nunca, na eternidade. Feliz.
2 comentários:
Que lindo, bicho. Você me comove e me inspira.
Nossa lembrei do meu Chico. A gente chora de saudade, mas feliz porque eles são únicos e incomparáveis e graças a Deus são queridos por muitos ou todos, enquanto que muitos nem sequer são lembrados. Que sensação estranha, sei lá. Talvez a fé não remova montanhas, mas nos impulsiona a subi-la correndo sem cansar. E seguindo vamos, caminhando e cantando...
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