02/01/2008

semibreve

E como a vida insistia em correr, ela decidiu sozinha andar apenas e bem devagar.

Olhar as sombras nos muros que discutiam porque todo mundo andava tão rápido, olhar as nuvens ainda desenhando suas formas buscando entender porque todo mundo só olhava pra cima quando chovia buscando proteção, olhar o movimento das asas da borboleta que em cada sobe e desce se perguntava porque todo mundo desperdiçava o cheiro da flor, olhar o vento ir bater nas folhas enquanto pensava porque todo mundo só se entendia no momento do vendaval, olhar o crescer da água antes que a onda quebrasse que se perguntava porque no mar todo mundo não reza mais.

Nessa camera lenta que ela mesma regulara tudo ficou mais intenso e belo. Até o feio aparecia aos poucos sem assustar.

Pois foi aí que ela se perguntou porque será que todo mundo não descobre a mágica de ser mais moroso, de sentir mais as palmas, de ouvir mais os músicos afinando as cordas, de exercitar a garganta antes do canto, de esperar o filme terminar na tela.

E mesmo assim, sem resposta, ela decidiu continuar.
Enquanto todos corriam ela e suas imagens simplesmente viviam.

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Gosto de boniteza, de arrumação, da moda dos anos 30. De margaridas e pérolas verdadeiras. Gosto da noite, de gente dando risada, do colorido de um prato de feijoada. Gosto de sair e de mudar, gosto de família, de amigos e com eles estar. Gosto de dança e de criança, e gosto muito, muito do mar.