24/09/2007

seu claudionor

Como é maravilhoso saber olhar a vida pela boa lente. Hoje fui ver uma casa que estava à venda, sentado lá dentro estava o seu Claudionor, o plantonista.

Muita gente no lugar dele poderia estar praguejando a falta de sorte, ou ainda, entregue à sorte, sentindo-se uma pessoa pequena, ou ainda e pior de tudo, desafiando a sorte, na preguiça e desdém dos momentos. Sei disso porque já cruzei muitos plantonistas na busca desenfreada de um lugar pra eu morar.

Mas dessa vez estava lá o seu Claudionor, sutil, sabedor da sua missão, orgulhoso por ser o plantonista. Me deixou à vontade mas estava presente. Fez questão de abrir todas as janelas da casa, as portas.. uma casa grande. Eu dizia que não precisava e ele dizia precisa sim, esse é meu trabalho e esse é seu interesse, ver bem a casa. Então porque não? Porque depois o senhor precisa voltar tudo e fechar. Mas essa é a minha responsabilidade, abrir e fechar as casas para os clientes. É por isso que recebo meu dia lá da Kaufmann, boa empresa viu?. E eu então comecei a admirar aqueles gestos simples.

Seu Claudionor abria as janelas e enaltecia a vista, mas sem mentiras. Ele dizia, olha dessa janela a senhora vai ver os telhados da outra rua, mas o bom é que a casa fica no alto, por isso a senhora vê os telhados sabe? e casa no alto é boa porque é mais segura. Ele ia me dando o lado bom das coisas sem nem perceber, porque ele é assim. Otimismo é nato, ninguém consegue ensinar alguém a ser otimista e bem humorado.

Durante a visita, seu Claudionor me contou a vida dele, elegantemente. Sem encher o saco, sem ser intruso. Ele me disse que a coisa mais importante que fez na vida foi comprar sua casa própria. Foram 40 anos de trabalho para receber da empresa 90 mil. Achou uma casa por 82 e nunca ficou tão feliz. Enalteceu também a empresa que lhe proporcionara essa condição sem fazer a conta que 90 mil dividido por 40 anos deu pra ele apenas 2 mil duzentos e cinquenta reais por ano. Ele não fez essa conta porque pra ele isso não interessa, só interessa o que é bom.

Ele me disse envaidecido que tem dois filhos, homens feitos já, e que agora o mais velho de 24 anos não tem mais assistência médica porque acabou a carência do convênio, mas ele se preparou desde os 20 anos e em quatro guardou um pouqinho por ano pra agora ter um bom plano, e o mais novo que fez 20 vai fazer o mesmo. Fiquei pensando nisso, e minha vontade era de ir até a casa do seu Claudionor com ele injetar mais alegria na minha vida.

Por fim, seu Claudionor me falou da esposa e do quanto ela sempre acreditou e esperou com ele a hora certa das coisas. Aí, me desejou sorte ao falar que eu tô no rumo certo, que a melhor coisa na vida da gente é a nossa casa e a nossa família, e fechou dizendo, não tenha pressa, tenha apenas certeza.

Seu Claudionor, obrigada. Aprendi muito com o senhor hoje. Um plantonista da vida.

Um comentário:

Vanz disse...

Fantástico, Cice. Eu rezo todo dia para topar com um seu Claudionor que me dê o ânimo das coisas simples. Viva!


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Gosto de boniteza, de arrumação, da moda dos anos 30. De margaridas e pérolas verdadeiras. Gosto da noite, de gente dando risada, do colorido de um prato de feijoada. Gosto de sair e de mudar, gosto de família, de amigos e com eles estar. Gosto de dança e de criança, e gosto muito, muito do mar.