06/05/2013

O "i" de Maria*

Ah, ainda bem que ela está por aqui, doando seu riso solto, que aprendeu a ser, meio que aos solavancos de tanta rigidez e egoísmo que sempre a cercaram. Ah, ainda bem que ela resistiu e sorriu mesmo assim, sem supor que tanto doía, e que aprendeu também alguma defesa para se assegurar de esperança, embora sem saber como iria se equilibrar na bicicleta da vida. Ah, ainda bem que ela é assim, tão dedicada, concentrada, resignada. Estudiosa e teimosa, fuçadora, persistente. Filha de quem é. Aquela que termina as tarefas, que não sabe o que é preguiça. Ah, ainda bem que ela foi mãe, e soube ser. E me fez ver o quanto é transparente o verbo amar. Ah, ainda bem que ela é minha, que quando eu grito seu querer, já está comigo há tempos. Que sabe de tudo, de olhar no guia de ruas até recorrer às duras penas da vida. Ah, que bom que ela toca, canta, tem música na alma. Que bom que é morena, que tem pele de índia, que força a caminhada nos pés que lhe avisam a hora de parar. Que sabe esperar, que supera, que ama o mar. Ah, que bom que eu sou dela, que bom que sempre fui. Que bom que eu me encosto no seu colo, e ganho carinho e posso contar tudo e ouvir tudo também. Que bom que ela é lutadora, é amiga da fé, é um anjo que lê para todos os ouvidos e que também cuida com seus olhos atentos. Que bom que tem raiva às vezes, gênio forte, olhar de fera. Ah, ainda bem que ela protege, convive, ora, pede, recebe. Que bom que é assim. Mãe e avó. Que bom o seu piano, o seu acordeon, a cor do seu batom que todas às vezes some da boca, e o seu cabelo curto, preto, que já foi mais, e já foi longo no corpo violão que encantou tantos, sobretudo um. Que bom que eu sei disso tudo. Que bom que a ouço todos os dias, e que bom que ela fala desse jeito, e escreve, e é culta, amiga, querida. Que bom que o "i" de Maria começa e termina seu nome. Ah, ainda bem que ela é minha. Ainda bem que ela é Mãe.

Ah, meu Deus, ainda bem!

*para Ivani, minha mãe. Com todo o meu amor.

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Gosto de boniteza, de arrumação, da moda dos anos 30. De margaridas e pérolas verdadeiras. Gosto da noite, de gente dando risada, do colorido de um prato de feijoada. Gosto de sair e de mudar, gosto de família, de amigos e com eles estar. Gosto de dança e de criança, e gosto muito, muito do mar.