23/02/2012

verbo escrever - imperfeito do indicativo

Escrever é tão nobre. Nobreza que esforço-me a ter e carrego como um hábito triste, às vezes, por não ter troca. A vida agora é feita de clicks, pequenas expressões para grandes públicos, imagens (como se elas não fizessem parte dos textos desde sempre). Eu gosto desse lado atual, participo e também deixo meu ego solto entre fotos e mensagens, mas receio um sumiço de intimidade, de segredos e mais ainda, de profundidade. Dia e outro corro ao email, as cartas nobres da atualidade, para encontrar alguém, um afago, um tom, mas não encontro. Por instantes umas ofertas, uns convites, umas correntes, febres de contato em dias tão amedrontados. Mas mantenho a leitura dos escritos de antes, busco nos filmes o bom do passado e atualizo o melhor do presente. O futuro? nem sei onde está nessa altura do campeonato e também não me preocupo mais com ele. Até lá...
Tenho escrito muito sem páginas, com a mente, nos momentos livres de descanso do corpo. Passo tempo escrevendo cartas imensas ao papai, à vida, à sorte. Textos tão lindos, intensos, que depois somem com a água no ralo ou com o sol que se põe. Vão. Resgato partes de vez em quando, mas deixo que eles desapareçam. Sem apego.
Fiquei feliz antes de anteontem, quando o colégio das crianças mandou na tarefa o significado de carta -   que não começa com "Era uma vez", nem termina com "E foram felizes para sempre". Lembrei das cartas do vovô para o Ben, seu primo de Ibitinga, aquelas que ele passava horas preparando, discutindo com a vovó o que contar, o que não, porquês, e aí buscava a caneta de ponteira verde escura, sentava-se na cabeceira da mesa e iniciava a viagem em papéis de seda - São Paulo, 22 de fevereiro de 1974. Prezados primos, Benedito e Tereza. Espero que essa ao chegar em vossas mãos encontre todos gozando da mais perfeita saúde e prosperidade...". Lindo, simples e lindo. O desejo de partilhar as notícias, os sabores, as dores. Hoje é tudo tão rápido, vamos direto ao assunto, sem rodeios, sem caneta, com palavras curtas, fortes, boas. A nova geração descobriu muito, tanto, facilita tudo. Precisa apenas saber o que vai deixar escrito para quem virá. Só isso. É fácil. Mesmo que seja por linhas tortas. Que Deus, então, ajude-nos a escrever. Mais.

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Gosto de boniteza, de arrumação, da moda dos anos 30. De margaridas e pérolas verdadeiras. Gosto da noite, de gente dando risada, do colorido de um prato de feijoada. Gosto de sair e de mudar, gosto de família, de amigos e com eles estar. Gosto de dança e de criança, e gosto muito, muito do mar.