11/03/2010

passando a rebentação

A gente percebe que as fases ruins vão passar quando sinais aparecem.
Hoje um gesto tão simples me fez reviver quem eu gosto de ser.

Há um ano e meio eu caí, quebrei a perna feio, fiquei mal. Pouca gente soube, até porque a minha tolerância a dor sempre foi grande, mas a verdade é que doía muito. A noite, dormir era uma luta, a perna latejava e eu sentia a placa de aço lá dentro conversando comigo, dizendo pensa, pensa na dor. De manhã, ela inchava e a dor era constante pelo dia todo, sem parar um minutinho. Juro que os incômodos das muletas, de descer escadas, do banho, do medo de escorregar, de escorregar mesmo com medo, e até de não poder pegar meus filhos no colo foi o de menos nessa história. A dor era a protagonista.

Ainda ela é, mas dói muito menos agora, só que ainda dói quando tento correr, andar rápido, usar meus saltos (mas eu uso) quando o tempo esfria, e sobretudo quando quero dançar. Não consigo mais dançar igual antes, um dos meus maiores prazeres, e essa constatação dói mais que a própria dor.

Mas fiz essa declaração aqui porque tá na hora do perdão.

Foi a partir dessa dor que tudo começou a me provocar, que outras dores eu tenho tido que enfrentar, que me fazem perguntar todos os dias coisas do tipo porque assim? porque ela? porque ele?, e depois mais cedo ou tarde do que eu gostaria, infalivelmente chegam as respostas.

Eu fiz escolhas na vida, ganhei amigos, perdi também. Fui fiel no trabalho, na carreira, nas histórias. Fui distraída, imatura, mas nunca fui cruel. Aprendi com meus pais que é melhor ser só a gente mesmo. Tá de bom tamanho querer apenas a vida que nos foi presenteada, e eu sou uma sortuda. Mas aprendi também que a dor não quer saber de sorte, dor vem pra te mostrar que é preciso sentir na pele, que quebras são necessárias, rupturas são preciso. É também uma fase da tua vida, então comece aceitando e agradecendo.

Eu tenho me perdoado, e perdoado quem não me perdoa. E eu gosto da palavra perdão. E eu tenho coragem de dizer isso. E as fases passam, as boas e as ruins, que demoram mais, mas ambas passam.

A minha fase ruim tá passando, muito já se foi, ufa!. Mesmo ainda com tapas na cara, com um bocado de tristeza. Mesmo com amigos me virando as costas, outros só assistindo de binóculo, mas sobretudo com na verdade os únicos, e melhores, tão poucos, bem perto.

Tati, mãe da pequena Maria Flor, Abreu - quero dizer que receber seu comentário hoje num post meu foi de uma importância que você nem desconfia. Ver que depois de tanto tempo, de tão longe, você entendeu cada letra do que eu quis dizer em duas linhas, é o meu sinal.

Então, hoje, que realmente acredito que menos é mais, por nós duas, e todo mundo que acredita, quero dizer que ganhei o dia, que tá tudo certo, e que esqueci a dor.

Um comentário:

Ana Paula Marques disse...

Eu também acredito.
Só não tenho coragem.
E sofro.


guardadinho

eu sou

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Gosto de boniteza, de arrumação, da moda dos anos 30. De margaridas e pérolas verdadeiras. Gosto da noite, de gente dando risada, do colorido de um prato de feijoada. Gosto de sair e de mudar, gosto de família, de amigos e com eles estar. Gosto de dança e de criança, e gosto muito, muito do mar.