09/03/2009

cacife

Eu desço do salto mesmo, desço sem dó, adoro. Tropeço se preciso. Já, quando eu vou virando a esquina, começa um sobe e desce que a sensação é a qualquer segundo gritar de prazer. Vem vindo, vem vindo... Aí, eu aperto o passo e começa o desequilíbrio. Ô porra de calçada torta que eu passo. Qual? Todas.
Então eu enfio a chave na porta e viro bem devagar. Aquilo faz dum jeito que tremo toda, como se tivesse uma platéia só no espio.
E dái pra frente, vem gente.
Não é de hoje e nem é segredo, sempre gostei e assumi uma fechadura. Gostoso botar os olhos lá e ver o que não pode, ou o que não deve, porque poder pode, vamos combinar, eu vejo! E vejo porque tem quem mostra.
A Dulce que me ensinou, e de pequena, ela procurava os vãos, e botava o olho lá, e enfiava o nariz pra sentir os cheiros também, e quantas vezes o copo nas paredes foi o bom companheiro junto do susto, quando de relance chegava alguém.
Agora a pergunta é, tá espiando? Tô. Quer fazer junto? mando assim mesmo, sem pudor, de bate pronto, goela abaixo. Então fico aqui de novo. De joelhos e desse lado, porque do outro não sei bem, fica sempre uma sombra pela frente. Mas isso é bom. Aparece e não aparece. Fica no quase.
Quer melhor que quase? Fica, fica, fica e não chega, até que eu queira.
Que nem, agora eu tô aqui, você bem que tá gostando de saber. Quer que eu conte exatamente o que rola lá não quer? eu conto porque quanto mais eu mostro o que não tá amostra, mais eu gosto e você também.
Olha, dá pra espiar, a visão tá nítida como lente de óculos pra míope. O cara tá concentrado, quieto até, mas tá arfando. Sei porque peguei o copo e tô de olho no peixe e ouvido no gato.
Escuto agora a respiração que acelera, não, não a dele, a minha. Não dá pra ver ainda quem tá quase em cima. Não sei se é homem, mulher, padre, não dá pra ver. Péra, opa, vi agora e vem chumbo grosso. Cacete, isso é hora de cair esse copo? Aí, agora sim, e de novo. Esse cara é bom mesmo, já faz um tempo que ele tá aí e sempre armado, não deixa uma, uminha sequer sem pelo menos uma passada boa de mão, e enche, enche as duas gostoso, e leva pra caixa.
Han, depois o povo fala que eu, tão assim, não devia ficar perto disso. Espiar é tudo. Eu sei o que ninguém sabe. Eu daqui vejo mais do que os olhos lá de dentro. Nossa, eu adoro uma fechadura. Adoro ficar desse lado. Adoro enfiar a menina dos olhos bem dentro desse buraco. Quê? tá chocado? que é isso.. todo mundo gosta dessa história, e eu espio que só. Espio todo dia antes. Espio o proibido.
É proibido mas tem sempre um montão de gente fazendo, e a mesma hora inclusive, porque já espiei em um monte de lugar e de um monte de jeito. Num sei, de um tempo pra cá virou vício.
Então eu meto o olho mesmo, lá no fundo, e além de espiar eu aprendo tudo e repito depois.
Uhm que delícia. Bom também é esse vizinho que dá margem, e joga bem, e depois porque sabe que eu dou uma olhada, me convida depois.
Se eu vou? Vou, e você quer ir também porque eu já saquei. Então comece espiando.

Só sei que depois que mudei pra cá, faz duas semanas inteiras que não perco mais no jogo de poquer.

Um comentário:

Vanz disse...

hahahaha! fantástico, Cice.
já tava esperando o gozo quando vieram as cartas. mandou bem.


guardadinho

eu sou

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Gosto de boniteza, de arrumação, da moda dos anos 30. De margaridas e pérolas verdadeiras. Gosto da noite, de gente dando risada, do colorido de um prato de feijoada. Gosto de sair e de mudar, gosto de família, de amigos e com eles estar. Gosto de dança e de criança, e gosto muito, muito do mar.