26/11/2008

lembrança

Nessa época do ano sempre vinha pra ela a imagem da Véva colocando as bolinhas no pinheiro verdinho. Aquele esticar de braços fazia os ossinhos estalarem num alongamento perfeito. Bendita estrela que fazia o sentido de tudo. E depois da árvore pronta, permitia-se meias e os enfeites pela casa. Andando lentamente agora, e podendo ouvir seus passos solitários naquela imensidão de pequenezas, ela sentiu o movimento da época. Ouviu, podendo jurar, as portas baterem fortes e as três crianças correrem afoitas pra olhar em cada canto onde estariam os seus agrados, e por onde o papai noel poderia querer surpreender dessa vez. Por meio às lágrimas foi até a cozinha, viu empoeirado o armário que guardava a bacia do capim pras renas, e nessa hora, como uma ilusionista, pode ver seu próprio corpo pequenininho preparando o tacho, na ponta dos pés, ao lado de seu irmão mais velho. Quanta saudade. Por fim, virou-se, sorriu um adeus e caminhou até a porta. Agradeceu ao vento e foi feliz em seus 90 anos embora, sabendo ao certo quanto tempo restava, e que seu melhor presente ela havia recebido deste instante.

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Gosto de boniteza, de arrumação, da moda dos anos 30. De margaridas e pérolas verdadeiras. Gosto da noite, de gente dando risada, do colorido de um prato de feijoada. Gosto de sair e de mudar, gosto de família, de amigos e com eles estar. Gosto de dança e de criança, e gosto muito, muito do mar.