24/09/2012

os sons do amor

Bem no portão de casa saía ele assoviando quando a hora já chegara. Fiuuuuuu, era um chamado longo e alto, pra que a gente não dissesse depois que não ouvira. Era meio que um relógio do tempo, escurecia um pouco e os ouvidos se preparavam, lá vem. E vinha. O assovio era uma fala, dizia: entra que agora está na hora das casas se fecharem, dos filhos lavarem as mãos e sentarem à mesa. Entra que esfriou, que quero saber se já fez a lição. Entra que tem hora pra brincar e hora pra estar bem quieto no sofá. Entra que eu mando no tempo. Entra. E a gente mal conseguia negociar, porque o assovio não explicava nada, já dizia tudo num sopro. Eu não me atreveria a deixar de ir na hora. O assovio vinha acompanhado, quase sempre, do arrastar dos chinelos e do bater do portão, e se assim fosse, correr era bom, porque a impaciência ia se juntar ao clube. Melhor que não, que o som ficasse mesmo no aconchego de quem quer os seus bem perto, em baixo das asas, ao alcance dos olhos. E a gente vinha, no máximo na segunda assoviada que nem andorinhas de volta no verão. Felizes. E quando entrava, um carinhoso tapinha na cabeça completava aquele dia. Tuc. Os sons do amor.

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Gosto de boniteza, de arrumação, da moda dos anos 30. De margaridas e pérolas verdadeiras. Gosto da noite, de gente dando risada, do colorido de um prato de feijoada. Gosto de sair e de mudar, gosto de família, de amigos e com eles estar. Gosto de dança e de criança, e gosto muito, muito do mar.