20/04/2012

2 em anos

Oi, Pai.

Hoje foi dia de molhar a alma. Derramar pelo rosto todo, por todo o tempo, um montão de lágrimas teimosas, iguais a você.

Lembrando de nós 2 nesses 2 anos.

De verdade, venho vivendo o dia 20 desde o dia 10, mas hoje - que começou ontem pra mim, às vésperas, ruiu a fronte com tanta água represada. Não, eu não estou triste, e você sabe. O choro é expressão. Voluntarioso esse tal pranto quando o assunto é saudade.
As lágrimas caem como gotas de chuva, assim mesmo por vontade das nuvens cinzas, e molham e fazem a terra virar lama, escorregam o sapato, mas são tão boas para a vida, para as plantas e o seu crescer.

Eu choro hoje igual a chuva.

Ontem, na imagem que a lembrança tem, eu via o último final de semana que passamos por aqui. Tua ida lá na minha outra casa e a vontade de ir ver o pé de caqui, cheirar ele, já que ver mesmo você não via.
Engraçado agora, que nesta casa que eu moro, a que você achou pra mim, cheia de pé de fruta, você vê tudo e quem não te enxerga sou eu. Só que os cheiros me confortam. Eu lembro do teu cheiro cheirando o caqui, e fico feliz.
Tão rápido, né pá? e tão demoradamente aceitável essa tal de morte. Esse rompimento das nossas medíocres possibilidades de te ver. Eu estou em desvantagem, porque sei que você me vê, e me vê! Eu sei também que você dá um jeito de ser visto por mim, como aquele dia no celular, hoje nas fotos do meu computador, que aparecem e somem e voltam e vão.
Alguns chamariam coincidência, e eu que bem te conheço, digo: obrigada por continuar incherido, pai. Esse teu jeito de cuidar de mim me faz continuar com toda a fé que aprendi com você e com a mamãe.
E falando em fé, deu certo o que te pedi. Ouvi e usei os teus conselhos. Não fui eu quem marcou esse dia para esse assunto, era pra ser ontem e passou pra hoje. Foi você também, não foi?
Bom, com o rosto pra lá de molhado, quero te dizer o quanto você está vivo para mim, mais e mais, a cada 2 dias, a cada 2 mêses, nesses 2 anos.

Nós 2 em anos.

Tem história, lembranças, tem presença e tem tudo igual a antes. Menos a possibilidade de sentir concretamente a tua mãozona pesada batendo de levinho na minha buxexa dizendo, bobona, não chora. É, o som, o som da tua voz cheia de otimismo e piada.
Só isso. Mas então tá. Uma hora vamos voltar a fazer tudo, tudo mesmo como era antes. E aí, me aguarde, porque vou correr pra te dar um abraço de jibóia e um beijo estalado aconchegada nesse seu barrigão.

Te amo.
Cice.

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Gosto de boniteza, de arrumação, da moda dos anos 30. De margaridas e pérolas verdadeiras. Gosto da noite, de gente dando risada, do colorido de um prato de feijoada. Gosto de sair e de mudar, gosto de família, de amigos e com eles estar. Gosto de dança e de criança, e gosto muito, muito do mar.