17/06/2013

consciência é valor, o resto é preço (que se paga aqui mesmo)

Semana passada foi marcada por um fato bem no dia dos namorados. Enquanto eu batia  perna em busca de duas sainhas para minhas meninas dançarem na festa junina da escola, em SP jovens batiam perna correndo da polícia porque reinvindicavam direitos. Só nesse parágrafo tem assunto à beça: escola, jovens, direito, consumo, polícia, crença... dá um livro. Mas no meio de tanta coisa que li, inclusive por conta do dia seguinte - 13 de junho, onde a manifestação ganhou grandes proporções -  quero aproveitar pra escrever também um pouco do que me atormenta. A verdade é que eu nas minhas andanças procurei os locais mais econômicos, duas filhas, roupa junina, inverno, eu queria gastar pouco, comprar em conta. Fui no centro de Cotia. Lotado. Nas lojas, as barraquinhas apontam "a partir de" (bem pequenininho) 9,90 (bem grandão), e mexendo no cesto só o que você encontra são peças de 29,90, 49,90 e tantos 0,90 enganosos que ficam suaves pela voz daqueles montes de Darksons e seus microfones. Saí de lá e fui para as grandes magazines, C&A, Renner, Marisa... e ó, de novo! produtos frágeis, de qualidade duvidosa, custando caro e se dizendo barato. E o povo cheio de sacolas. As filas dos caixas eram minhas cúmplices. Mulheres e homens cheios de pacotes de ilusão para iludidos.

Corta pros manifestantes de SP, brigando pelo estupim dos 20 centavos a mais no transporte público.

Claro que não é só isso que gerou tal comoção que se estende até hoje, num manifesto de formadores de opinião, pessoas com grana e todas as outras. Ouvi um dos caras que mais falaram nesse país representando a imprensa, errar grave quando criticou a classe média frente a essa indignação. Vi também a polícia ser xingada até, como se a forma como ela age fosse novidade para algum brasileiro. Nada público funciona no Brasil, a polícia seria diferente? como bem disse Dimenstein. Enfim, a minha percepção de tudo isso é que realmente estamos à deriva. As pessoas precisam sair às ruas sim, e o primeiro passo é mesmo ir sem saber porque e depois irem se aculturando do que estão fazendo. Quando eu fui para a Paulista no Diretas Já em 84, eu tinha 16 anos e depois como cara pintada no Collor com 24, eu já entendia mais, mas ainda não tinha a noção da intensidade daquilo, que tenho melhor hoje, mas fui e fiz alguma coisa. Talvez agora seja o mesmo com os jovens que estão gritando o movimento #vemprasruas. Eles, certamente, sabem menos do que saberão deles mesmos no futuro.

Mas o que tem a ver a primeira parte do texto com a segunda?

Enquanto batia perna e ombros com aquele monte de gente consumindo produto ruim a preço de ouro (porque era dia dos namorados) eu percebi que a classe que precisa dos 20 centavos tá gastando esse dinheiro com compras, sem sequer perceber que sim é um direito, mas não, se o fizerem sem crítica. Veja, eu to ensaiando um mês para comprar uma bota da marca "Selo" que é bacana, tem qualidade (eu tenho uma outra há 7 anos, juro) porque custa 349,00. Mas me deparei com um monte de moçoilas levando botas da marca "Sola" - acabamento péssimo por 299,90 na loja da banca que tem o Darkson berrando. Sério, a tal da "Sola" não dura um inverno...  De verdade não é pelos 0,20 que temos que ir às ruas, mas pela consciência. Não podemos ser pedintes nem apenas ouvintes, temos que lutar pelo direito de sabermos o que fazer. Dinheiro aqui é o de menos, classe social idem. Ou acreditamos que somos iguais ou vamos continuar cuspindo fogo pra quem tem carro importado e do outro lado maldizendo quem anda de metrô. Eu quero ambos, cada um com a sua vez e valor.

Portanto: primeiro ESCOLA, reivindiquemos nas ruas o direito à educação, por favor! O direito a que todos tenham as mesmos oportunidades. Depois SAÚDE. Ninguém vive pra levantar um palito de sorvete sequer sem ela, quanto mais uma bandeira verde, amarela, azul e branca.

Fora quem nos quer mudos e cegos! Fora quem nos quer sem aulas, sem hospitais ou comprando produtos que valem metade do que custam. Fora!

Minhas filhas dançaram lindas com saias que eu comprei em uma loja de marca no shopping pelo preço das porcarias que eu vi por aí. Estavam lindas e souberam que foi uma boa compra porque irão usar em outras ocasiões também. Paguei 80, 00 em uma e 45, 00 na outra versus os 85,00 em cada vestidinho caipira horroroso que queriam me empurrar. Isso vai de exemplo quando elas tiverem que lutar pelos seus direitos - sejam eles quais forem.

A mudança parte de cada um de nós.

guardadinho

eu sou

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Gosto de boniteza, de arrumação, da moda dos anos 30. De margaridas e pérolas verdadeiras. Gosto da noite, de gente dando risada, do colorido de um prato de feijoada. Gosto de sair e de mudar, gosto de família, de amigos e com eles estar. Gosto de dança e de criança, e gosto muito, muito do mar.