31/12/2010

Caprino, menino e homem das decisões

Desde que nasceu decidiu ser forte. Capricorniano que era, cabeça dura do dia 30 de dezembro, e em registro 01 de janeiro pra ganhar 1 ano de liberdade militar, isso da cabeça mole de seu pai, ele sempre fora destemido. Irmão mais velho de 4, foi empurrado sempre para o trabalho e depois para os estudos, mas empurrado ele sabia tudo, e depois que amadureceu, sabia porque aprendia de verdade, mesmo quando dormia durante as aulas. Dançava. Dançava bem, dançava sempre. O figurado, nos bailes de madrugada e também no das moças sérias. Dançava nos casamentos, encantava, enamorava. Também cantava, vozerão, afinado e com ritmo arranhava as cordas que nunca lhe foram ensinadas. Sempre foi amigo, e sempre foi fiel a eles. Gostava de tê-los por perto. Trabalhava duro, cortava um dobrado, sempre correndo contra ou no favor da pobreza. Não tinha vergonha, colocava a mão na enchada e no cristal, limpava sapatos ou penicos, não tinha nojo nem medo, mas tinha um gênio dos diabos, autoritário e machista. Endurecia às cegas pra depois dar a vida, se preciso, em arrependimento. Mas mesmo assim era agregador, uma raridade, porque odiava mas amava também, e permitia que o ódio passasse,mas o amor não. Amava com a intensidade da verdade, dos amores entregues, sem perguntas. Um sábio, garantia na sua teimosia assustadora suas certezas e falava pouco, a não ser que estivesse numa reunião de amigos, onde sempre puxava as histórias mais hilariantes quando não eram vividas por quem ria delas. E eram sempre histórias verdadeiras, como nos filmes de Carlitos, que ele tanto adorava. A maior alegria embebida da tristeza profunda que não teve forças pra derrubar aqueles músculos fortes, e nem as gargalhadas dadas pelo canto da boca torta, consequência de um reflexo de ar que o atingiu quando criança.
Foi sempre assim, vivendo e decidindo, escolhendo e conseguindo, brigando e perdoando, unindo e ensinando. Decidiu a esposa e seu amor truculento e profundo por ela, o filho primogênito que levaria apenas o seu sobrenome, a filha mulher tão esperada depois de tantos homens na família toda, a raspa do tacho que veio esculpida em carrara, a sua fatcha. Decidiu ver seu pai falir em seus braços, sua mãe aos domingos aguardando com um presente guardado na caixa de sapatos. Decidiu perdoar seus irmãos a toda hora e a qualquer preço, e estar por perto deles que são a família, e família tem sempre que estar unida. Decidiu a viagem ao Ceará, o apartamento 21 pelo terraço de casa, a boa e farta mesa, sempre e pra todos. Decidiu a engenharia e ser o melhor nela. Decidiu lutar pelos filhos, ver a caçula tornar-se médica. Decidiu gostar dos genros, da nora, e orgulhar-se sem medida dos 7 netos, seus motivos de lágrimas fáceis depois de tanta dureza. Decidiu como sua última atitude, comprar a primeira bicicleta da última neta. Decidiu ver seu time campeão, seu país campeão, apesar de sentir-se um imigrante nele. Decidiu sua sorte, seus prazeres, a hora do fim. Foi-se antes dos 70, decidido que 69 era uma melhor lembrança, másculo que sempre fora, enaltecendo essa condição. Decidiu viver e não morrer em vida, e por isso morreu assim, vivendo, de repente, num susto, depois do trabalho, de conversar com os filhos, de passar horas lembrando sua cumplicidade de casal com sua esposa, agradecendo e despedindo-se de seus últimos amigos que fez lá na Penha. Forte como nasceu, intenso como viveu, em paz como queria. Deixou histórias, fotos e muita saudade. Seu coração deu a paradinha famosa de sua escola Padre Miguel, mas não voltou. Vida e morte num mesmo tom, afinadas por Paulinho da Viola, Luiz Vieira, Adoniran e Cartola. Uma bela melodia que será sempre murmurada por mim por todos os dias 30 de dezembro que ainda vierem por aí.
Pai, parabéns!

23/12/2010

É!, não ou...

Faço mesmo diferente nesse final de ano. Sem listas, apenas um desejo, um foco.
Com uma saudade que me ensinou mesmo, não só na leitura ou palavras, que não há como mudar o final mas sempre como melhorar todos os inícios que você desejar, e é sempre tempo.
Com a união da família mais que a dos amigos. Mas com os amigos presentes, a melhor fase de todas.
Diferente também me reconheço pelos dias. Mais quieta, mas não menos feliz. Mais caseira, mas não menos dançarina. Mais calada, mas não menos desejosa.
Termino esse ano, que foi até o alto dos meus 42 anos o pior de toda a minha vida, incrivelmente bem.
Sem mágoas, com algumas tristezas profundas, mas sem mágoas.
Melhor preparada para o Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo, mais próxima da minha amiga Nossa Senhora e esperando sem pressa o que teremos pela frente, Ela e eu.
Tô em paz. Tô pronta. Tô cheia de gratidão.

08/12/2010

contraponto




Vive dentro de mim uma inquietude. Eu gosto dela. Ela me deixa viver todos os momentos, sentí-los. Conflitante, é só a partir desse desassossego que surge a calma, e que posso saber muitos silêncios de hoje. Superposição de duas melodias diferentes, o exato significado de contraponto, e também a música da minha vida.

29/11/2010

A missa de domingo

Eu cresci indo à missa com Seu Pedro e Dona Ivani. À missa do domingo, das músicas escolhidas na semana, das pessoas que repetem uma oração sem sabê-la. Eu cresci ouvindo meus pais dizerem que não faz mal essa repetição, porque ouvir o bem já basta, e uma hora vai ser muito válido. Cresci também ensinada a não julgar a igreja, que erra, ué! porque é feita de homens, e homens fraquejam. E os padres são homens, apesar de muita gente achar que eles são sei lá o que. Cresci orientada a ter uma doutrina e ser fiel a ela, e portanto com o direito de ver e apontar erros mas com o dever de entregar acertos, então. E por conta disso até hoje, a missa é parte da minha rotina. Eu vou lá porque quero ouvir o bem, e me encontrar com as pessoas que estão a fim da mesma coisa. Aqui perto de casa descobrimos a Igreja Nossa Senhora da Imaculada Conceição, uma capelinha pequena, com uma comunidade do mesmo tamanho tão dedicada que dá gosto. A missa é alegre, cantada, pra cima. Os padres que rezam ali (vários, já que estamos alocados numa comunidade maior) são todos bacanas. Uns mais tradicionais que outros, alguns muito cultos, e muitos dedicados aos entraves mais duros da vida, mas sem exceção, todos devotos a Deus em primeiro lugar, é... porque tem padre que se coloca antes de Deus, como muitos de nós também. Eu e minha família, que agora eu levo comigo como Seu Pedro e Dona Ivani faziam, vamos todos os domingos rezar na missa das 10h30. Meus filhotes comem o pãozinho que o padre benze e meu coração fica contente. Eu olho do lado e vejo meu marido de joelhos, e agradeço por ter ele comigo. Na maioria dos domingos ainda to lá com a minha mãe, a Dona Ivani, que arrasta com ela a boa missa, a sabedoria de tantos anos, a fé. No domingo eu me sinto visitando a casa de Nossa Senhora, aquela linda, e eu fico assim assim com ela, entregando meus filhos à sua proteção e carinho. Também agradeço, peço a beça, e compartilho de boas energias pra todos os meus parentes e amigos. No domingo eu aprendo história (porque pra se entender a religião é preciso conhecer os contextos históricos), eu admiro cada vez mais Jesus que foi um cara muito corajoso e bocudo, e eu entendo os porquês, os sofrimentos e me convenço de merecer o que a vida tem de bom. No domingo eu rezo. De joelhos. E volto pra casa com meus passarinhos em baixo das asas, protegidos e abençoados, prontos pra uma semana melhor.

19/11/2010

Não há como esquecer


Poderia ser só o título mesmo porque ele já diz tudo, mas a vida também se encarrega de dar sua mãozinha, quase que num misto de prazer e pena. E assim a cada dia, ou tempos em horas, minutos, algo faz com que a gente se lembre. Nem sempre é triste, nem sempre é melancólico, mas no final fica sim aquela sensação de escuro, que pode se acender. Essa semana, ontem na verdade, eu com uma gripe do alibabá, que nem sabia ha quanto tempo eu não tinha (orgulho de dizer: Cice há uma pá de tempo sem gripe...), me sentia sonsa, saudosa. Puta da cara, achando que podia não estar daquele jeito, podia ser mais forte e não adoecer. Raiva de ficar espirrando, com dor no corpo, raiva.
Lá entre o durmo ou não durmo, peguei a revista que somos 4a capa com Bruce Willis pra ler, uma publicação da Itália agora no Brasil e abri de sopetão, na página 24. Bem ali, um texto de Milly Lacombe chamado VIVA A TRISTEZA, que começa assim: "Estávamos em frente ao aparelho de TV da sala, em uma época na qual as casas tinham, quando muito, apenas um aparelho de TV, e foi a primeira vez que vi meu pai chorar." Li comendo as letras e sem entristecer, meio que sabendo por que abri aquela revista ali, e deixado vir a tona a velha e boa saudade. O texto destaca outras duas maravilhas: "Quando atravessávamos a rua, meu pai me pegava pela nuca e dizia: gatinho a gente segura assim - e eu nem me dava o trabalho de ver se algum carro estava vindo. Se ele me conduzia, então era seguro". E ainda "aos 10 anos tinha apenas uma certeza: por pior que fosse a situação, meu pai nunca deixaria que nada de ruim me acontecesse". Depois da leitura, fechei a revista, virei de lado e dormi.
Acordei hoje boa da gripe e feliz. Valeu seu Pedro, via Milly Lacombe.

16/11/2010

bikers





Andar de bicicleta é um desafio. Equilíbrio, vento contrário, adrenalina iniciando no sangue, pra correr e correr. E depois voltar pra casa, carregando a magrela mas sorrindo, porque a vida é assim mesmo.

28/10/2010

É duca - ção

Ando agoniada. Tenho medo de não saber educar meus filhos. É, porque educação significa tão mais do que escolher a escola, e gostar ou não dela. Educar tá cravado nos exemplos. Na chegada em casa, em cada horário. Nas justificativas muito dadas e pouco interessantes. Educar tá no jeito da gente andar, de agradecer o cara do posto, da padaria. Tá no telefone que vc atende e é o telemarketing do banco. Na atenção que vc tem com a rotina. Tá onde não se vê, ou se pensa que não se vê. Educar para o bem, hoje em dia, é quase dizer pro teu filho morra pobre, esmagado entre os que estão nem aí, exceto com uma puta sorte... mas é literalmente a única forma deles morrerem ricos de alma. O correto. Não tem outra porta. No meu caso, me agonio porque mãe pensa demais, e eu sou intuitiva nas reações. Será que passo minha intuição pra frente? Será que deixo maus exemplos quando grito, quando sou impaciente? Quando e que hora que eles são eles, e não são eu. E o contrário? Venho pensando nisso desde que ganhei minha trilogia, mas muito mais agora que eles estão com 7. O número diz muito. 7 anos formam um ciclo, entram novas considerações, respostas, dúvidas e certezas. Hoje a gente educa dentro de um aquário de deseducação. Entre superfícies. A gente nada em palavras e pessoas rasas e que se acham profundas, o que é pior do que antigamente que também existiam superficialidades, mas menos poder pra elas. Hoje não existe mais sinônimos rebuscados, as palavras perderam a força para os jargões. A informação, tão útil, lotou-se de pequenos trechos que você conclui ao bel prazer, porque é demasiada. Eu não quero retroceder, isso não, mas quero manter a educação solidária em casa, aquela que não é assistencialismo barato, que a gente faz porque quer e tem tempo, porque respeita as diferenças, porque é gentil. Porque se dirige a alguém mais velho como senhor, que espera a vez, que não fura a fila, que empresta o livro acreditando que o terá de volta. Quero ensinar que não se põe palavras na boca de ninguém, não se mente, não se vira às costas pra quem precisa, não se maltrata a natureza, não se aproveita de situações. Que o oportunismo é feio, mas a espera é virtuosa e que há recompensa pra quem prioriza o próximo, e o ajuda. Quero educar preservando o jeito, a personalidade, as críticas, questionamentos, curiosidades. Sabendo ler os olhos dos meus filhos, pra sempre me manter atenta a isso, que simplesmente dizem tudo. Mas pra isso tenho que continuar aprendendo. Que Deus me ajude nessa selva.

07/10/2010

legado

Não se deixa nada morno pra ninguém. Nenhuma história sem dor ou quebras são interessantes. Também não sobrevivem os roteiros da vida que só se baseiam nas conquistas materiais, no tal saí do nada e cheguei aqui, hãn... e? Isso é filme Blockbuster dirigido por um inexperiente. A vida tem que ter rasgos, estragos, quedas, loucuras, gargalhadas. Um figurino bem desenhado, batom vermelho, chapéu de panamá, meia de seda e fumaça de cigarro. Há de se pular muros com vestidos longos no meio da madrugada, rastejar-se por baixo de portões trancados, parar aeroportos, seguranças, indústrias inteiras para que faça sentido. Não se trata de exageros, nem de insanidades baratas, trata-se de entrega. Da sensação plena de uma alegria que na verdade dura segundos eternos, e que consegue explicar que o tempo realmente pouco importa.
Eu sou uma apaixonada, amante da queda livre, uma aventureira de carteirinha modesta com a loucura. Deixo que ela vá primeiro, pra que eu avalie se devo acompanhá-la. Gosto das obras de arte que carregam sentimentos por séculos, por continentes, mas que são misteriosas, introvertidas e secretas. Gosto da leitura que faz suspirar, chorar, derreter. Gosto das amigas que sofrem pelos contos da vida real. Vivo da horta que plantei em casa, do cárcere e das dúvidas por opção, e vivo do amor. Meu legado é a consciência, que deixo passear e achar seu lugar em meio a todo esse transe.

05/10/2010

sonhos

Sonhos são cenas inexplicáveis, umas adoráveis outras não.
Umas verdadeiras, outras censuradas.
Sonhos me fazem mais rir do que o contrário, me fazem escapar de armadilhas, me deixam intrigada.
Eu me vejo nos meus sonhos, não em todos mas em boa parte.
Sonho muito misturado, sonho sempre com alguns lugares, sei lá eu se existem. Tem um tão gostoso na praia, tenho vizinhos lá já, amigos. Fiz amigos de sonho, acreditam? é que vira e mexe eu sonho com esse lugar então já me garanti.
Sonho muito os sonhos dos meus amigos reais. Tiro eles de fria geralmente, e sempre me coloco nelas por eles, engraçado isso. Sonho de gargalhar, comédias extensas e roteirizadas. Adoro!
Ultimamente tenho sonhado aos trancos, quebrado, sem muita lembrança. Não gosto, porque geralmente tenho detalhes, cores, fitas, sedas pra contar pela manhã. Talvez a idade esteja avançando e os sonhos comecem a despencar como o corpo.
Pelo sim pelo não vou sonhar até onde der, loucuras, alegrias, suspenses, medos, explicações ou dúvidas.
Assim sonho eu.

28/09/2010

sim

Eu quero sim.

Quero os que gostam de mim, os que me abrem seus sorrisos. Quero os que não fazem promessas. Eu quero aqueles do olhar, que não precisam, não se explicam. Que preferem o silêncio e não a solidão. Quero os que sabem afastar-se do que foi inventado e vivem simplesmente. Quero os que não jogam, nem iludem. Quero os dos cantos, dos encantos, os legados, os aprendizados. Somente.

Eu quero sim.

20/09/2010

Esse dia 20





Reservei esse dia pra ficar alegre. Juro que luto pra isso, porque desde cedo parece que as cenas tristes puxam meu pé. Mas o que é triste? a morte? Ontem assisti pela trilhésima vez Patch Adams, na Record eu acho, sem querer e sem tirar do canal, sabe como é? E ele fala aos médicos sobre a morte. Ele pergunta porque temos tanto medo da morte, de falar sobre ela, de tratá-la. Porque não com tranquilidade, com até certo ponto, humor? E pensei nessa hora que também acredito nisso, mas a luta é a saudade e não a morte... De qualquer forma, decidi pela alegria hoje, independente dos olhos molhados e de bater de cruzada na cara da tristeza. E por isso homenageio minha mãe e meus filhos, num ensaio mágico de vida, de novo ano, de tudo de bom.

10/09/2010

9, 10, 11




Dia 9 é dia de Sofia, 10 é de folia, e 11 é de tudo o que eu mais queria, dia do aniversário da Julia, do Pedro e da Bia.

08/09/2010

colombina

E de repente a gente fica se perguntando um monte de tranqueiras, tipo, que é que eu fui fazer quando decidi entrar pro ramo da promoção? justo eu que detesto participar delas, que não tenho saco sequer para o cadastro. Bom, ganhar é outra coisa, disso eu gosto. Talvez por aí??

Ou então, quando desisti de ser estilista e parei de cortar roupas das revistas pra vestir modelos na minha imaginação? Aos 8 anos? 10?

Porque não insisti na Pedagogia, aliada a Psicologia - quase dons naturais?

Mas a verdade é que não é só esse tipo de pergunta que tenho feito a mim mesma, mas muitas outras. Umas, nem posso escrever aqui, chocaria uma parte da população jabuticabeira, eu sei.

Perguntas que sempre sabemos as respostas, mas que mantemos, de certa forma, elas quietinhas.

Bom, algumas, por fórceps, se respondem, arrancadas no ferro. E putz, depois que saem aliviam, mas doem, deixam as marcas da decisão errada, imatura, covarde, inpensada? Sei lá baby, mas que já foram.

Em parte até dá pra dar umas risadas da merda toda, em outra, uma viagem segue até onde poderia estar, se fosse por outro caminho.

Arrependimento? Não, sério!
Apenas, reconhecimento.

E reconhecendo vamos errando. Pelo menos, em outros carnavais.

01/09/2010

setembro


Dia 01, eu gosto.
O mês de setembro sempre foi tudo de bom pra mim. Não posso explicar porque, mas ele vem chegando e vem me dando umas certezas, assim!. Me lembro, mesmo sem saber o que, da sensação boa que esses 30 dias, todo o tempo, me deram. Mês que acaba o inverno e traz as flores, que eu amo, amo e amo, que nasceram os meus filhos, a maior e mais importante história que eu tenho. Mês que recebo boas notícias, que ganhei aumentos, promoções, concursos de vendas, competições, elogios (lembro de uns e até hoje fico sem jeito mas feliz) que decido algo novo, que é cheinho e gostoso de falar, s-e-t-e-m-b-r-o... Bom também porque ele arrasta a boa vibe até o final do ano. Parece que tudo clareia, esquenta, modifica. Uma maratona boa.Vem por aí. Eu sei.

31/08/2010

crítica corporativa

Ando bem sem saco dessas coisas de empresa. Sei lá se é porque tô longe disso ha um bocado, não posso mais com certas baboseiras de quem vive de crachá pendurado no pescoço. Tem um povo que merecia tá com a corda pendurada no pescoço, e eu confesso que passava lá e dava o chute na cadeira. Pensando bem, sim, esses Manés estão mesmo com a corda no pescoço, e por isso fazem o que fazem, sentem do jeito que sentem, tripudiam do jeito que tripudiam e acreditam que trabalhar numa empresa e ter um cargo bacana é o mais importante da vida. Coitados.
Toda regra tem exceção claro, mas hoje em dia achar os bons é tão raro. O vírus do "foda-se, você" tomou conta do mundo. A maioria não respeita nada, faz do oportunismo a sua bíblia e do tira do meu, a sua rota. Não pode, gente. Não pode.
As mesmas pessoas que tomam atitudes corporativas escrotas, que aceitam as regras da banalidade, estão acatando, concordando com a falta de escrúpulo, com a covardia, dando às costas para o coletivo. São essas mesmas pessoas que se omitem, e o pior ensinam a omissão, em todos os aspectos. Porque a vida continua depois das 12h de trabalho, e as omissões também.
Ninguém tá lembrando que o homem aprende por exemplos, e não por palavras. Ninguém tá interessado no todo, só em si. Ninguém percebe os filhos que crescem sem arestas, sem limites.
Eu hoje reclamo aqui algo que me incomoda, é a mais pura verdade, que mexe com os meus. Talvez não fosse isso, não tivesse despertado, mas como vejo não quero fazer parte. Luto com minha ira escorpiana contra esses porras e suas empresas de merda.
Ninho, de cobra.

25/08/2010

grow up




Dentinhos caindo, banhos sozinhos, a leitura - ahh a leitura! A escrita na letra de mão. Belos sinais do crescimento, da autonomia que se vai conquistando com os anos. Daqui a 14 dias os pequenos estão com 7. Conversas novas, agora com os melhores amigos. As próprias escolhas, o reconhecimento entre o que se quer e o que se pode. O cuidado é apenas manter o estímulo para a espontaneidade, tão importante, que leva à coragem de arriscar. Nas brincadeiras eu digo, devolvam meus bebês, vocês comeram eles e por isso cresceram desse jeito, e eles riem que só. Na verdade meu sentimento é, sigam queridos, a vida é todinha de vocês.
Sigam bem assim, junto com Nossa Senhora vou acompanhá-los pra todo o sempre!!!

20/08/2010

estigma

E todo dia 20 eu me sinto assim, chorosa, sozinha, pra baixo. Como se essa data trouxesse pro oxigênio a dor, e eu respirasse ela. O duro é que penso que pra sempre será desse jeito. 10 com 10, agora me dão lágrimas...

17/08/2010


Isso!
Salta, voa.
A vida é assim mesmo boa.
Vai virando, pulando.
Pé descalço e flutuando.

Por isso agora eu sei,
que nem rainha ou rei,
E até mesmo melhor que a dança,
Só o que vale é ser criança.

sossega o rabo!

Bom mesmo é sossegar o facho, deixar tudo fluir, permitir acontecer. Esquecer as horas, os débitos, as mágoas, as trincas. Porque o que é, é, e pronto. A gente insiste demais, teima demais com tanto pensamento. Liberando a mente, o desenho se faz sozinho, se ajeita, e no final tudo concorda com ele. Boa sensação essa. Muito boa.

12/08/2010

Diferente&Contente

Minha vida tem estado muito diferente do que imaginei aos 41. Sempre me vi em guerra, na luta, no front. Carreira a milhão, sem tempo pra nada. Na loucura de uma executiva famosa. Mas a verdade é que hoje sou apenas eu mesma, aqui na eii Granja, acompanhando a rotina da casa e de um negócio que não quer mais provar nada pra ninguém, só dar uma grana pra valer o motivo. Engraçado de tudo, é que eu tô muito diferente do que sonhei, muito, mas sei lá porque tô contente. Escorpiana que sou, uma boa dramaticidade na vida me faz falta, aquela intensidade que não adianta nada, sabe? E aí por algumas horas questiono o inquestionável, mas logo passa e volto eu pra uma rotina que não imaginei que gostaria um dia de ter. Mas num é que eu gosto?

09/08/2010

jóias raras


Adoro receber elogios sobre meus filhos, quem não gosta não é? Mas é que se os elogios não fossem tão merecidos, eu sei que ia gostar, mas no fundo saberia a verdade. Só que no caso, meus tricos realmente são crianças especiais.
Eles nunca foram de fazer encrenca à toa. São respeitosos e amorosos um com o outro. Respeitam também os amigos, os espaços de cada um. São gentis e tem bom senso. É, porque criança também deve ter bom senso. Brincam, participam, mas esperam, dão a vez, compreendem. E essa história não é de agora aos quase 7 anos não, foram sempre desse jeitinho.
Eu fico um orgulho só. Feliz mesmo porque não são um nem dois a dizer isso, são muitos, e de todos os lados.
Todo ano me perguntava se o colégio que eles estudam é bom, se precisaria estimular mais atividades pra eles, se isso ou aquilo. Esse ano decidi ficar mais perto deles, e com isso mais perto de mim também e de nós. Que boa essa decisão.
Não percebia que as dúvidas eram somente minhas. Porque eles estão bem, são inteligentes e queridos. E mais que isso, eles estão reconhecidos pelos outros, e sabem sozinhos, reconhecer quão valoroso isso é.

Filhotes, sejam sempre assim. Mesmo quando parecer que de outra forma seria melhor, mantenham-se desse mesmo jeitinho.
A vida sempre irá retribuir o melhor pra vocês.

05/08/2010

Cice Teresa de ah, tá!

A cada lugar que vou faço um amigo. Não é exibicionismo, juro - é isso mesmo. Verdade é, que escolho se os quero, e isso eu sei que preciso melhorar. É que sei lá, minha intuição me aponta pra quem precisa ouvir algo que eu possa falar naquela hora, ou apenas para alguém que quer falar algo que eu possa ouvir. E assim, uma simples atenção, vira sorriso a cada 5 minutos de alguém que sequer você conhecia a 5 minutos também. Eu prefiro ouvir histórias, quaisquer delas, as felizes e ingênuas mas também aquelas com fundo de muito sofrimento pra entregar um pouco de brincadeira da vida. Nessas duas semanas, esbarrei com uma mãe que perdeu sua filha mais velha, vítima do câncer e um menino de 21 anos, depressivo, ex-drogado que tentou o suicídio. Aos dois entreguei alegria e consegui os ver sorrir. Vi os dentões deles aparecendo e gostei. De um jeito não suficiente, mas possível para o momento, sei que tirei as angústias daqueles olhares, e mesmo por tão pouco tempo, voltei pra casa feliz da vida, e mais ainda feliz da minha vida. Ultimamente tenho tido vontade de ajudar, ajudar, ajudar. De ser mais tolerante, menos crítica. Vou na missa e fico por um triz pra me oferecer fazer parte da comunidade. Tenho estado atenta às qualidades dos outros, e tentado montar um jogo de como os defeitos poderiam estar melhores. Sei também que não faço isso porque uma luz branca raiou sobre a minha cabeça e cá estou eu, Cice a santa. Qual o quê. Tenho percebido que quanto mais doamos, de verdade, mais temos, e que o exercício da gentileza gera a gentileza é duro, mas eficaz. Como não sou boba nem nada, continuo querendo as mesmas coisas que sempre quis, materiais inclusive, mas agora de um outro jeito, mais simples talvez, mais fáceis talvez, por isso procuro fugir das minhas armadilhas do mal. Aquelas que me fazem ser grossa com as pessoas, rude, impaciente. Luto contra um jeito italiano e encrenqueiro que me deu muito, mas não tudo o que eu queria. Na verdade estou apenas admitindo um dom que tenho, o de gostar de gente. Rezo pra conseguir.

03/08/2010

dos mestres


"Nasci aqui mesmo no Rio de Janeiro, três meses depois da morte de meu pai, e perdi minha mãe antes dos três anos. Essas e outras mortes ocorridas na família acarretaram muitos contratempos materiais, mas, ao mesmo tempo, me deram, desde pequenina, uma tal intimidade com a Morte que docemente aprendi essas relações entre o Efêmero e o Eterno.
(...) Em toda a vida, nunca me esforcei por ganhar nem me espantei por perder. A noção ou o sentimento da transitoriedade de tudo é o fundamento mesmo da minha personalidade".
(...) Minha infância de menina sozinha deu-me duas coisas que parecem negativas, e foram sempre positivas para mim: silêncio e solidão. Essa foi sempre a área de minha vida. Área mágica, onde os caleidoscópios inventaram fabulosos mundos geométricos, onde os relógios revelaram o segredo do seu mecanismo, e as bonecas o jogo do seu olhar. Mais tarde foi nessa área que os livros se abriram, e
deixaram sair suas realidades e seus sonhos, em combinação tão harmoniosa que até hoje não compreendo como se possa estabelecer uma separação entre essesdois tempos de vida, unidos como os fios de um pano".

Contente-se com o que tem


Gordão e com bigode, aquele era o tipo de gênio da lâmpada que eu jamais imaginaria. Meio Seu Manoel de Albufeira e meio Giuseppe da Calábria, ele falava alto e não entendia um só pedido meu. Porra gênio, não tem outros assim que fazem o que vc faz? É mas não tinha, na minha vez dei uma topada com o pé na lâmpada de um gênio topeira.
Pedi antes de mais nada que ele ficasse mais perto de mim, porque o cara gritava do outro lado da rua e eu não entendia as regras. Foi-se o primeiro pedido - não mas isso não era um pedido, pedido, era só pra gente se ouvir. Não teve jeito, o tal gênio fora treinado por telemarketings. Mais alguma coisa senhor? Em que posso estar te ajudando ainda?
E assim fiquei eu e o gênio ali, porque não podia desperdiçar o outro desejo. Sim, só dois... a notícia é que atualmente os pedidos foram reduzidos. Dois e não se fala mais nisso. Bom, um foi-se no atravessar da rua, o outro tinha que ser muito bem pensado.
Ah, já sei - quero ser um gênio, assim eu mesmo posso me realizar.
Pá, puff, pam, croinck, sleptz - pronto. Puta que pariu!!! Pedido concedido.
Descobri que aquela anta, desde sempre, era eu.

31/07/2010

Pensando na vida

E ela perguntou, mamãe o meu rosto vai mudar quando eu crescer? E eu disse, vai ficar mais lindo do que já é. E ela abriu um sorriso, virou e dormiu.

20/07/2010

meu melhor amigo


Hoje é dia do Amigo. Dia 20 de Julho. É também o dia que completa três meses que o papai deixou a gente por aqui, com cara de ué!?.

Engraçado o tempo e a morte. Juntos, permitem que a gente perceba que eles não fazem nenhum sentido, mas que simplesmente são todo o sentido do mundo.

Eu, desde então, tenho navegado entre o sentir que faz muito tempo que não vejo, não falo, não tenho mais meu pai todos os dias, com o tal - parece que foi ontem que ele nos deixou. E muitas vezes até a dúvida, mas será que foi ele mesmo? Porque nessa falta de explicação de tempo e morte, eu sei que ele está presente como nunca e que poderemos nos ver a qualquer instante.

Do nó no peito, passando pela falta de ar que a dor causa, à tranquilidade e certeza que tudo está certo.
Esses tem sido os meus 90 dias depois que o seu Pedro me prometeu que ia sarar, e sarou!

Então, nesse dia do Amigo, eu transcrevo aqui um e-mail que o Flávio, meu irmão, mandou pra gente há uns dias atrás depois de fuçar na máquina de fotos que a mamãe e o papai usavam para o trabalho.

Uma foto, turva, tirada sem querer, mas que hoje significa a plena nitidez e a providência, aquela que a gente nunca sabe que vai precisar um dia, durante os acasos. A mão mais linda e mais disposta do mundo. Orientadora e carinhosa.

Divido o e-mail, a foto, minha resposta e todo o sentimento em homenagem ao meu melhor e mais querido amigo. Meu pai.


Re: Pra matar a saudades dessa mão

A mão do papai me dá muita saudade!!!! Eu tenho a mão parecida com a dele, pelo menos todo mundo dizia isso, e eu as vezes fico tentando encontrar nela o que a dele me dava.
Eu ando com muita saudade do papai. Muita mesmo. Eu chego a sentir a mão dele tão grandona, batendo de levinho no meu rosto como dizendo: vai em frente, vai em frente....

Um mãozão tão doce...

Que droga!

Mas eu sei que a mão dele tá segurando a nossa. Eu sei que tinha que ser desse jeito. Eu sei.
Só que dói.

Que pena!

Que linda essa foto!!

Beijossss.


On 05.07.10 11:40, "flavio galloro eii!" wrote:



Bjuss


Flavio Galoro

19/07/2010

ser criança

Troca de e-mails e amores.
Essa é a minha mãe, e nós vamos ao museu essa semana.

....Oi, mã
Eu sempre lembro que vc queria morar no museu do Ipiranga. Vc já tinha me dito isso, por vários momentos da minha vida e eu nunca esqueci, e bem acho mesmo que vc seria muito melhor que a marquesa de Santos, e que deve ter uma ligação com a realeza.
Vamos levar os pequenos lá? Vc topa ir na semana que vem?

Te amo!!!!!
Cice


On 13.07.10 18:31, "pedro galoro" wrote:

Queridos
Sabem porque estou encaminhando esse e-mail que recebi para vocês? Não é porque não conhecem o Museu do Ipiranga, mas talvez não conheçam minhas fantasias infantis com o museu. Adorava ir lá com o vovô, a vovó e geralmente com algum parente do interior. Eu entrava e sonhava que ali era minha casa. Eu morava lá. Descia aquelas escadarias, não com roupas antigas não, mas como eu mesma. Meus quartos e salas enormes aonde eu recebia pessoas e desfrutava de tudo aquilo. Mas o sonho maior era a escadaria e o saguão principal. Grande, majestoso. Eu me sentia muito, muito feliz. As coisas históricas, eu até curtia, principalmente os mobiliários e os quadros. O vô ficava me falando das moedas etc. etc dinheiros, documentos que estavam lá em exposição, mas isso passava muito de relance, porque eu estava vivendo no meu palácio naqueles momentos, e estava muito feliz, e saia curtindo meus jardins ao derredor. Só que caía na relidade quando tinha que pegar o ônibus para voltar pra casa. Mas tinha valido a pena.
Eu também já fui criança.
Bjs, mamãe.

sexto sentido

Sempre sinto se demoro muito ou se vou ter tempo pra fazer algo. Posso me atrasar se preciso porque os relógios estão parados pra mim. Sei antes de tudo se posso contar com a sorte, ou se tenho que arrumar uma boa desculpa. Antes de qualquer telefonema, eu já me sinto culpada ou aliviada. Sei as vozes, os sons da rua, as sombras pela minha volta. Sei o ressoar dos pensamentos de quem fica do meu lado, leio olhares e acomodação das mãos. Tenho um sexto sentido dos bons, que me atrapalha quando insisto em não saber lidar com ele. Aquela sabe? da auto-confiança solene, que faz com que eu aceite que posso controlar tudo o que virá pela frente. É que verdadeiramente sei que consigo, só não sei por todo o tempo, quando consigo. Por isso andei me estrepando um pouco, relaxei o que não devia. Subestimei. Aprendi, e passou. Mas continuo folgada que só.

15/07/2010

campeão mundial nos nossos corações





Batendo papo com a Julia, que ama aquele Biscoito mais que tudo na vida, me deu vontade de escrever sobre o Nadal.
Tradução: Biscoito = Um Labrador cor de mel com cara de sono, mimado e gostoso. Nadal = Meu Australian Shepeard, cão pastoreio de raça caríssima e tão dócil, que eu ganhei da Di, e lá em casa ele apronta igual um vira lata.

O Nadal veio pra casa há exatos um ano e meio. Era uma bolinha de pelo preto, mas já grandão com apenas três meses de vida. Umas patas que anunciavam o tamanho e a força que ele teria. Veio menino pra fazer companhia ao Pedro, e como faz... acertamos nessa decisão.

A Di falou, essa raça é muito inteligente, vcs vão ficar admirados. E ela tava muito certa. O Nadal, sério, só falta falar. Ele entende tudo, sabe tudo, percebe tudo. Abre portas, fecha, dá um nó na gente quando quer fazer alguma coisa que não deixamos. Ele recria formas, jeitos. Um sabido.

Também é um querido. Um cachorro meigo, amoroso e brincalhão, e apesar de toda sua inteligência, meio ingênuo, como todo ser do sexo masculino. Meio tontolhão - até que pisem no seu calo. Eu brinco que ele não tem noção do tamanho que ficou, ce acha um chiuaua naquele corpão com 38 Kgs de puro músculo que a veterinária se encanta.

Defende as crianças como um leão, são os amores da vida dele. Brinca com elas o dia todo, e briga também. Pega os brinquedos, roi, engole, ai é choradeira - e ele sabe porque abaixa o rabo, mas não se arrepende não. Disputa espaço com eles, no puff do quarto de assistir TV, no tapete, no nosso colo. Corre ao lado das bicicletas, dos patinetes, fazendo eles ficarem em fila, meio que num instinto da raça mesmo. De manhã, se a gente bobeia, sobe logo nos quartos e acorda um por um, pulando nas camas e lambendo a cara deles que logo ficam cobertas pelo edredon ou pelos gritos de, sai Nadal... manhêeee!!!!

Cachorro é bacana porque não tem mesmo amizade maior no mundo. É uma amizade que não espera nada em troca, que tá sempre lá, que não te trai. A gente pode dar bronca no Nadal, jogar latinha barulhenta pra ele aprender o que pode e o que não pode, dar umas revistadas na bunda dele, fazer o que for, daqui uma só olhadela, o rabo abana e a amizade sequer se abalou.

O carro chega e a gente escuta ele chorar. Pode ser cedo, tarde, madrugada. Ninguém de casa passa desapercebido por ele. A Neninha, toda segunda, sofre de tanto que ele pula pra dizer que bom que vc chegou, a Elisângela idem às sextas. o César é seu ídolo, ele passa o dia olhando pra cara do César e deitado nos pés dele, um grude.

Ele nos ama de todo o coração, fica escrito naqueles olhinhos arteiros que bastam uma troca com o nosso, pra ele sair correndo e pegar as pinhas, ou panos, ou osso de brinquedo e querer brincadeira. E a brincadeira é sempre de correr, correr, correr e correr livremente.

O Nadal gosta de terra, de chuva, de caçar os passarinhos que ficaram espertos quando ele chegou. Ele não tem frescura, dorme em qq canto, tem calor, late quando algo não tá certo e a-d-o-r-a comer, é fissurado em mastigar qq coisa, ah a ração dele preferida é de salmão - já viram cachorro gostar de peixe? pois é...

Quando a gente voltou a morar em casa, essa era uma das nossas decisões, dar um cachorro pras crianças. E mesmo com toda a trabalheira que ele dá, com um bom gasto por mês (banho a cada 15 dias, ração, vacinas, brinquedos, snacks, etc, etc) e com toda vez que a gente tem que viajar um dilema a se enfrentar lá em casa, nós estamos muito felizes de ter o Nadal.
Um quarto filho, um quarto irmão.

Um companheiro nas alegrias e nas tristezas (deitou a cabeça no meu colo e não me deixou um só segundo quando papai se foi) que nunca, nunca sai do nosso lado.

13/07/2010

dos mestres

Não discuto
com o destino
o que pintar
eu assino.
(Paulo Leminski)

12/07/2010

não esqueça sua almofadinha

Tenho a sensação de que voltei de uma viagem longa, feita em cima de um pau de arara. Fiquei um tempão bem dolorida, incomodada, não sabendo porque a estrada tava cheia de tanto buraco. Durante esses longos dias, que arrastaram meu conforto, me confundi várias vezes perdida em mim mesma, achando que estava perdida no caminho. Queria chegar num lugar pensando que lá seria melhor, e ficava lamentando no meio daquele chacoalhar da vida. Hoje tenho certeza de que mesmo querendo culpar o caminho, o erro era meu e as decisões que vinha tomando. Os atalhos que fui procurando em outras estradas. Descobri também que fiquei por tempo demais ao lado de bobos e bobagens, de bestas e besteiras, de bananas e banalidades, e que a vida cobra o nosso despertar, diariamente ou de uma só vez, como no meu caso. Se aprendi tudo? Nem tenho essa pretensão, mas posso dizer que tô enxergando melhor, que depois desse balançar pra lá e pra cá , de me equilibrar no meio da poeira, tenho bem sabido filtrar o que verdadeiramente não me interessa, e ficado satisfeita com minhas escolhas, que agora estão bem mais simples, bem menores do que eu imaginava que elas deviam ser. Um alívio.
O que realmente interessa? O que realmente vale a pena? O que realmente é importante?

Esse é o único mapa que faz a viagem ganhar uma gostosa almofadinha.

08/07/2010

irmãos





Eu sempre quis ter família grande, mesa cheia, aquele bando de filhos, falação. Acompanhando esse desejo vinha também o de ter condições pra isso, babás, ajudantes, mordomo, cozinheira, passadeira, lavadeira e tudo o que é "eira", claro. Como tudo o que se deseja, de um jeito ou de outro se recebe, eu logo fiz três filhos de uma só vez e ganhei dois apenas com um sim. As "eiras" também vieram, não do jeito que eu bem queria, mas não posso reclamar. Só sei que lá em casa são 5 filhos. 3 atuantes e 2 positivos e operantes. O mais legal é que mesmo não sendo tudo da mesma mãe (eu no caso) são obviamente do mesmo pai, e portanto o convívio é regular mas não diário. A mais velha é casada, o mais velho mora em Londres, os pequenos agora é que começam a entender quem é quem no reino de Araquém. Sim, porque que eles tinham mais irmãos isso ninguém precisou nunca explicar, mas que esses irmãos não eram meus filhos, aí ficou mais difícil. E mais difícil ainda entenderem como eles podem ser filhos do pai deles então!!?? Mas tirando esse fato que a idade desvenda, a verdade é que eles se adoram. Os pequenos ficam atrás dos grandes e os grandes não sabem o que fazem pelos pequenos. Uma graça de ver. Quando tá todo mundo junto é bacana, é divertido, é mesa cheia e falação. Uma família de sete mais o cachorro. Família grande, sem solidão, com irmão de tudo que é jeito, preto, branco, loira, morena, altos, baixos, mas uma coisa totalmente em comum: Todos lindos! E não é corujice...

Lembranças na mala

Fazia muito tempo desde a última vez que tinham se visto, o que era um encontro de todo dia, obrigatório, interrompera-se por anos. Vinte e tantos... A sensação era a mesma de ter deixado de fazer um caminho que sempre se fazia, e depois passar pela frente da casa. Agora ali, com aquela esteira de malas entre eles, os olhares eram curiosos. Será? Mas o cara tá careca, e ele era um galã com um topete que dava inveja na turma da oitava série toda. E se essa é a minha impressão, qual seria a dele? Eu podia ver o pensamento voando até os meus ouvidos: nossa como envelheceu aquela menina baixinha de cabelos encaracolados. Ui!... Ah, mas até que eu to conservada. Juro que recebo elogios quando falo dos meus 41, pessoal gentil, viu? Bom é verdade, cairam algumas coisas aqui, outras ali, mas olho no espelho e ainda encontro muita graça. Analisando bem , ele também não tá mal não. Até que aquela careca deu um certo charme, um quê de maturidade e pelas malas que tá puxando, escolheu bem sua profissão. ...E depois de olhares curiosos, um sorriso e um pequeno aceno. As malas chegaram e a gente foi até a entrada da Alfândega. Vc é.... sim, sou eu. E assim ficamos pelo menos uns 20 minutos dando risada, lembrando algumas pessoas, apresentando nossas famílias. Rever amigos, lembrar histórias, admirar o tempo que passou e estar feliz com ele. Careca e com algumas caídas, não importa. Bom demais isso.
Deu verde. Passamos os dois.

07/07/2010

filhos meus






Porém que coisa
Que coisa louca
Que coisa linda
Que os filhos são!
(Vinícius de Moraes)

06/07/2010

mudando o rumo da prosa

Quero voltar lá atrás, mas não porque me arrependo, contrário. Somente porque acredito que esteja na hora de retomar. Devagar, sem pressa, sem cobrança, apenas chegar ali onde parei e larguei uma cesta cheia de expectativas. Todas ela voltadas a ensinar, a seguir com a carreira que escolhi, não a que me escolheu. Naquele canto, onde a cesta ficou, tinham muitas ideias. Tinha uma jovem cabeluda cheia de energia pra mudar o mundo. Tinha uma trilha que eu sabia correr nela. E eu gostava disso. Sei lá, voltar por ali me dá uma euforia que me lembra aquele tempo, parece que me enxergo e consigo estar de novo na mesma idade, do mesmo jeito. Apesar de eu ainda continuar cabeluda e cheia de expectativas que posso mudar o mundo...

05/07/2010

dos mestres

O correr da vida embrulha tudo; a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. Ser capaz de ficar alegre e mais alegre no meio da alegria, e ainda mais alegre no meio da tristeza....
(Guimarães Rosa)

da minha infância


Tudo colorido, uma bolinha do lado da outra. Quer coisa mais gostosa que um saquinho de Confete?
Alegria comestível.

01/07/2010

minhas férias


E as férias chegaram, e com ela os picutas me querem e me querem mais. Resolvem facilmente tudo, a gente tá de férias e por isso você também tá mamãe. Eu nessa hora, ainda mais agradeço a decisão de vir aqui por perto de casa com escritório e tudo. Fui muito sábia em fazer caber 110 m2 em 30. Um passo de casa e to eu com os meus amores, meus queridos. Programação eles tem de monte, com bola, com corrida, com filminho, com jogo da memória, mico, pipa (o César inventou de ensinar o Pedro a fazer pipa, e agora esse é o mais novo esporte lá em casa), mas também com o wii e playstation. Eu bem que quero ver se dá pra viajar um pouco em julho com eles, nós 5 e convidar os vovôs. Depois que o papai se foi, quero muito estreitar as gerações.
Bom, é diversão por um mês garantida. Sem precisar acordar cedo, sem se quer saber que dia é hoje.

passa anel



E eu continuo sendo a conexão das pessoas, a facilidade pra elas, um jeito de ajeitar o melhor de um com o que é bacana do outro. Continuo mostrando todo mundo pra todo mundo, e ficando feliz que tem dado certo, aqui quietinha no meu canto. Essa sou eu, talvez seja esse mesmo o meu talento.

banho bom

Lá pelas tantas, depois de tudo resolvido, crianças na cama, som de suspiro, o banho é uma benção. Mesmo no frio que tem feito, depois do relógio já marcar outro dia, mesmo assim. Eu sempre amei tomar banho. De pequenininha nunca teve discussão, a não ser pra sair da banheira. E hoje, ainda mais, é um ponto pra mim. A água vem que vem caindo quentinha e faz desenhos no piso e eu fico lá descobrindo o que é, como com as nuvens. Do outro lado da porta bem que eu sei que o marido espera que seja rápido, mas essa hora é relaxante, vale os pensamentos do dia, a certificação de que o horóscopo tava certo, ou não, as risadas dadas, outros ditos em tantas vozes. Um repasse. Então enquanto a água cai, eu faço minha maior terapia que custa sim, um desperdício talvez, que eu reponho em luzes apagadas e cuidados com reciclagem, juro.

29/06/2010

pronto, sentei.

Puxa, faz tempo. Tava com saudade de vir até aqui, de parar um pouco, sentar e escrever. Ainda mais depois que soube que minhas escritas tão sendo lidas e curtidas lá pelo Noroeste do estado. Coisa mais boa essa. Mas é que andei correndo pra cá e pra lá, mudando da mudança, desmontando móveis e montando novos caminhos. Ligada na TV, na copa, nos dias que seguiram, e sem sinal de internet que desse gosto. Risquei uns papéis dia desses porque surgiu uma vontade de dizer que andava meio sem vontade, mas confirmando o sentimento, o texto parou na metade. Hoje venho pra dizer que voltei, que o sinal da net tá alto, e o meu também.

Das últimas, só pra registrar (ainda mais) o César fez 50 anos. Festejamos, e eu lhe desejei que a nova idade envelheça seus receios e rejuvenesça suas decisões, aquelas que ele pouco tomou na vida por tanta responsabilidade. Que ele deixe mais loucuras atravessarem seu caminho, e que se permita, com a sabedoria do tempo vivido, tentar e errar muitas vezes. Delícia isso, e sem culpa.

31/05/2010

sai de mim urutu

Porque decidir o óbvio é tão difícil? E porque insistimos em discordar do que a vida acorda, e concorda. Que teimosia besta. A gente fica dias, semanas, meses, quiçá anos na agonia apenas por não conseguir enfrentar nossos próprios medos. O que outros vão dizer, como vou me virar assim? E assim, como se fossemos tão importantes.
A pobreza da alma é oposta à pobreza da matéria. Pouco importa o que se tem, mas a gente insiste nisso.

Meu desabafo é pra que eu me escute.

Como disse um querido amigo, às vezes é bom que a gente escute o nosso próprio discurso. Ando bem cansada, cansada mesmo de gente que camufla, que esquece suas origens, que sem falar berra prepotência. Que andam pensando que são? A morte chega, ué, esse é o final.

De verdade quero mesmo é conseguir livrar-me desses sentimentos todos, hoje tão pulsantes em mim, que tem me atrapalhado um bocado. Quero fortalecer minha segurança e deixar pra lá, seguir sem sequer me incomodar. Como um espírita que não quer ver o além, sou eu. Não quero ver a sujeira, quero estar limpa pra ter meu caminho de volta. Tenho que fazer a minha parte.

Quem sabe a mágica?

25/05/2010

pertencimento

Tenho uma preguiça que me custa hoje. Preguiça de ser do mundo. Gosto mesmo é de ser aqui do meu pedaço, dos meus compadres e comadres, das histórias da infância, dos jogos de carta, da escola dos meus filhos, do futuro que posso planejar. Gostaria de ser do mundo também, e o que é bom, se caso fosse como antes, com viagens, passeios, trocas sentidas, apalpadas, vistas de perto. Ser do mundo pela tela, pelas buscas incessantes de assuntos que todo mundo uma hora ou outra vai descobrir, e se entristecer de não ser o primeiro, pelos links, pelas línguas das não escolas, ai! isso me dá muita canseira.

20/05/2010

agonia

As perdas, ah como são dolorosas e belas. Antagônicas nos levam ao amadurecimento procurado tantas vezes em vão.

Porque há de ser pelo certo sofrimento que chegamos perto das alegrias? Como saber o tempo se ele não aparece fora do relógio... e que máquina essa que toca nossa tristeza em doze badaladas?

Se sofro, alegro-me? Como é isso?

É, mas não agora. Esse é o resumo, porque ao deixarmos de ter, passamos assim a ver.

17/05/2010

Combatendo o bom Combate


Ontem eu voltei de viagem. Ontem fui até a casa da mamãe onde as crianças trocaram com ela companhia nestes dias. Ontem ela com os olhos cheios de lágrimas, me disse que não iria voltar comigo pra minha casa e manteria-se ali, na sua casa, agora sem a sua melhor companhia. Ontem ela decidiu enfrentar esse momento. Ontem ela me deu o taco de bilhar que o papai mais gostava. Ontem ela me mostrou sem saber, que já está organizando o destino das coisas dele. Ontem eu me despedi dela na porta da garagem, que ela sempre abre pra gente, pensando em toda sua grandeza e coragem. Ontem eu chorei até dormir. De tristeza. De muita saudade. De muito orgulho.

15/05/2010

Chile, nós e os amigos

É a segunda vez que venho ao Chile. E que bom que é isso. Ir pela segunda vez em algum lugar te dá a chance de ver as coisas com calma, de participar das rotinas, de não sentir-se culpada por deixar de ir olhar um ponto turístico, e olhar os costumes.

O Chileno é esquisito. Baixos e quietos os serviços são deixados sem muita atenção. As lojas por aqui requerem sua disposição de comprar, e não a deles de vender. Mas como ha sempre uma exceção pra tudo, ontem jantamos Guilherme, Di, César e eu em um local completo. Lindo lugar, saborosa comida, excelente serviço e um vinho daqueles de desejar que a botella não acabe nunca. O nome? Puerto Fuy. Recomendo.

Por aqui é impressionante a recuperação do país pós terremoto. Três meses depois Santiago não demonstra sequer que tal tragédia aconteceu, e outros locais mais atingidos estão amparados, e totalmente em reconstrução. O fato ficou na lembrança das pessoas apenas, e que é o suficiente para entendermos que não foi fácil estar por aqui naqueles dias.

Mas tenho pra mim, que esses momentos dolorosos, também enchem o pais de orgulho. As pessoas enchem o peito pra defender seu território, suas naturezas e seus lares. Se unem e se solidarizam. Foratalecem-se.

Dessa vez estou na casa de amigos, queridos amigos, mais que isso padrinhos de casamento. A gente tava com saudades deles e eles da gente. Sei disso pelos abraços, pelas conversas em volta da mesa e por não conseguir sequer pegar um copinho de água, que já sou paparicada. A Di e o Gui vieram pra cá há quase um ano, já. Eles, seus picutas Giovanna e Arthur, a Nilda e os cachorros da Di. Vieram e souberam se adaptar, respeitaram as dificuldades, e agora saboreiam os prazeres. Esquiam, possibilitam às crianças uma educação versátil, Di voltou a saltar na hípica, aculturam-se e fazem amigos. E o vinho junto nas comemorações.

Olhar pras cordilheiras, ir as compras e encontrar preços especiais (não há impostos em eletrônicos por aqui), caminhar pelas ruas bem organizadas, desenhadas, e limpas, das galerias e livrarias. Almoçar nas vinhas, admirar as lápis lázulis, dar boas risadas, atualizar os papos, levar lembranças, e estar ao lado do César foi minha viagem dessa vez. Mesmo com uma pitada de compromisso profissional, vou embora com a plena sensação que tirei umas férias da correria, e escolhi o lugar certo pra isso.

Deixo o Chile rezando pelos meus amigos aqui, pela paz de sua natureza, pelo desempenho de um país gostoso e belo, que esse ano voltou até a disputar a copa do mundo, depois de muitos anos.

E até a volta.
Gracias.

04/05/2010

Manhee, o caminhão da Granero já chegou...

To mudando desde que me casei. Há 14 anos atrás morava sossegada na mesma casa. Nem de um quarto pro outro havia me mudado. A casa tinha apenas dois deles e a gente era uma penca, igual entrar na pipoca do galo da madrugada, ficou ali ali ficará. Eu sonhava em mudar, sempre adorei ver casas em exposição. Até hoje fico amigona dos velhinhos que dão plantão nessas casas, e tem o dia todo pra varrê-las, e não varrem.
Nas minhas brincadeiras de boneca, mamãe conta, que meu barato era montar a casa toda em detalhes, e depois mudar. E lá iam-se as Susis e os bonecos todos de um lugar pro outro, muitas vezes inesperadamente.
Depois que eu casei, acompanhem comigo: Saí do Tatuapé e fui pro Campo Belo, de lá pra Recife, de Recife pra Santana, de Santana pro Morumbi e depois dos tricos pra Granja Viana, aí de volta pro Tatuapé - raspando em São José dos Campos, e do Tatu voltamos pra Granja. Pessoa Física: 7. Na Jurídica, vamos ver: Igreja São Judas (pra quem não sabia, fui secretária da Paróquia aos 16), de lá pra escola recanto dos Peraltas, de lá pra Instituto Educacional Ateniense, depois pra EESG Prof José Marques da Cruz a tarde, aulas de Sociologia e Didática, que delícia!. De lá para Nestlé, da Nestlé pra Ponto, da Ponto pra eii. Deixa ver: PJ = 6, mas não vale... nas escolas eram aulas e eu nem sentia que trabalhava. Na PJ 3 estão valendo!
Agora a eii vai mudar de endereço. Tá cheio de caixa por aqui. Tudo empacotadinho. Vamos pra uma casinha de vila na Vila Olímpia, bonitinha que só. Não tem cara de escritório, tem cara de casinha mesmo. Os vizinhos, de um lado um italiano viúvo que adora bater papo, de outro um casal de japoneses velhinhos, o máximo japoneses velhinhos. Na frente uma vózinha que deixa a vila com cheiro de pudim o dia todo. E nós lá... vamos servir nas reuniões bolo de cenoura, tá todo mundo convidado. E eu ainda devo encarar mais algumas mudanças de rumo, de rota, de endereços. Eu, o gordo e os pirulitos, que com 6 anos mudaram 3 vezes de casa e 1 de escola. Acho que eu tenho fogo no rabo mesmo, como dizia o papai.

30/04/2010

noturno

Eu gosto muito da noite, sempre gostei. Puxei isso da mamãe que também prefere a corujice. Só que por esses momentos a noite tem sido tristonha, esquisita. Os dias ensolarados caem melhor, dão mais vontade. Mas isso é normal. Acostumar-se, preencher os pensamentos, ir adiante. Um passo de cada vez. Vai dando certo...

26/04/2010

eternidade


Tenho recebido muito carinho, muitos cuidados vindos de lá e de cá. Obrigada. Estou bem. A sensação é de profunda tristeza, leve. Será que isso se explica? Não há o que faltou nem o que sobrou, a fé escancarou-se, a certeza também. Há eternidade.

Papai sempre foi um homem alegre, otimista. Não sabia debruçar sobre problemas, não conseguia lamentar-se, nem ver dificuldades. Sempre optou pelo lado da crença, do presente, dos sonhos, de realizar hoje, falar, brigar, amar. Perdoar e pedir perdão só se fosse agora. Não fazia drama, gostava de contar casos e piadas, era atento. Aprendeu o que deu, e sabia de tudo. Amou muito. Amou a mamãe, cada um de nós, dos netos, dos amigos e amou a si mesmo. Foi fiel. Foi ele.

A morte é muito consternante. Priva-nos da visão, do som da voz, da rotina da presença. Mas a morte também é aliviante, é a chance de recomeçar, de fazer tudo o que talvez já não desse mais. Deus é misericordioso e nos carrega no colo na dor. Estar aberto pra Deus é impagável e imprescindível. Ah, eu agradeço cada segundo de hoje. Agradeço por todos os segundos que vivi ao lado do meu pai amado, e todos os que viverei ainda ao lado de tantos que me querem bem. Estou em paz. Com o coração leve, leve. Sentindo sabores que nunca senti, enxergando o que já via de um modo que nunca percebi antes. Sentidos ampliados, acústicos.

Quero agora manter-me assim, seguindo os sábios e diários conselhos do Seu Pedro, vistos de forma tão simples. Quero deixar tudo o que vivemos, as boas sensações voarem alma adentro. Quero viajar, ir pra onde se desejava. Estar e estar com minha mãe querida. Minha mãe é forte e uma grande alma. Meu amor, minha melhor amiga. Quero estar com meus irmãos, meus sobrinhos, cunhados, com meu marido e meus filhos e minha família e meus queridos amigos.

Quero só isso, e tudo isso. Quero continuar tudo por causa do papai. Que ensinou a gente assim, e se foi apenas daqui dos meus olhos, só do contato dos meus olhos. Mas que vive, como nunca, na eternidade. Feliz.

22/04/2010

Um dia igual aos outros, que terminou assim.

Alo..
Oi pa
Oi filha! Ta boa?
To pa..
Onde ce ta?
To indo buscar o César.
Mas já essa hora? Num tá na eii?
Não, é que eu tive uma reunião e hoje tenho que pegar umas cxs de leite lá no Grêmio
Hunnm, por isso que esse negócio não vai pra frente...
Rs, mas e vc? E a mama?
To bom, ta tudo bem, hoje nós fomos lá perto da tua casa.
Ah é, vc falou que ia. E aí?
Arrumei chifre em cabeça de cavalo.
Porque?
Pegamos dois serviços grandes de duas empresas.
Ué, isso é bom, graças a Deus.
É, mas se eu não botasse a língua pra fora depois de 10 passos.
Ah, tá bom pa, melhor assim que sem o serviço.
É... Acho que vou comprar um cavalo pra andar pelas firmas. Uns patins...
Aí é que ce não dá 5 passos.
É.....bão então tá.
O pa, ja to chegando aqui na garagem da Nestlé e mais tarde eu ligo pra vcs, tá?
Ta, ta bom. As crianças tão bem né?
Tão!
Então tchau. Dá um beijo neles.
Ta, eu dou. Bj.
Bj.
*************************************************

Mã, que foi? Que aconteceu?
Nada.... Teu pai passou mal na diálise mas já tá bom.
Como assim passou mal na diálise e tá bom?
Ta ué, pera que ce fala com ele.
Alo.
Oi pa, que foi?
Nada, eu passei mal aqui mas já to bom.
Mas o que foi?
Dor no peito, mas o enfermeiro já me deu o remédio e eu ja to novo.
Pai como assim? A Lu falou que vc tem que ir pro hospital.
Tua irmã é exagerada, minha pressão já ta 13 por 8...
Bom pa vc ta bem mesmo?
To to falando que to, fica sossegada.
Ta bom, me dá noticias.
Ta, e as crianças?
Tão bem pa, tão aqui te mandando beijo.
Isso! Manda beijo pra elas também.
Ta.
**********************************************
Alo
Mã, e aí?
Tamo aqui esperando,filha.
Mas e aí, e o papai.
Ta aqui, ta bom é que a ambulância demora mesmo.
Deixa eu falar com ele.
De novo?
É de novo.
Oi filha.
Pa, ce tá bom?
To..... Ce ta chorando porque?
Porque eu quero que vc fale a verdade.
Mas eu to falando, eu to bom, pára de chorar aí senão eu vou chorar aqui.
...
Eu to bão. Ce tá com medo que eu vou empacotar é? Eu não vou, vou fazer as bodas ainda.
...
Jura pa?
Eeee, para filha de chorar.
Então jura por Deus que vc vai sarar.
Ta bom. Eu juro por Deus. Eu vou sarar.
Ta. Beijo pa.
Beijo filha.


Fim.

16/04/2010

eu conto me encanto e me encontro


Uma vez no ano, o Via convida os pais para irem contar histórias pra classe dos seus filhos. Vai quem quer ou pode, e eu e o César estamos sempre lá (de verdade eu bem que espero esse dia que me reconecta com o que, eu acho, que verdadeiramente é meu dom).

Vai aqui as historinhas que contei nas sextas, 9 e hoje 16/04. Poemas e histórias de ilustres cariocas - em homenagem ao nosso Rio que vem sofrendo, mais do que o de costume.

2 poemas pra lembrar que a gente veio ao mundo pra amar mais que tudo.
1 historinha pra gente seguir sempre a nossa própria opinião.
2 animadas, belas e singelas historinhas para as meninas e para os meninos. Gostosinhas que só.

Os pequenos gostaram, e eu mais ainda. Valeu 1º ano!!! Obrigada meus três amores!!!

A Borboleta (Olavo Bilac)

Trazendo uma borboleta,
Volta Alfredo para casa.
Como é linda! é toda preta,
Com listas douradas na asa.

Tonta, nas mãos da criança,
Batendo as asas, num susto,
Quer fuguir, porfia, cansa,
E treme, e respira a custo.

Contente, o menino grita:
"É a primeira que apanho,
"Mamãe! vê como é bonita!
"Que cores e que tamanho!

"Como voava no mato!
"Vou sem demora pregá-la
"Por baixo do meu retrato,
"Numa parede da sala".

Mas a mamãe, com carinho,
Lhe diz: "Que mal te fazia,
"Meu filho, esse animalzinho,
"Que livre e alegre vivia?

"Solta essa pobre coitada!
"Larga-lhe as asas, Alfredo!
"Vê com treme assustada . . .
"Vê como treme de medo . . .

"Para sem pena espetá-la
"Numa parede, menino,
"É necessário matá-la:
"Queres ser um assassino?"

Pensa Alfredo . . . E, de repente,
Solta a borboleta . . . E ela
Abre as asas livremente,
E foge pela janela.

"Assim, meu filho! perdeste
"A borboleta dourada,
"Porém na estima cresceste
"De tua mãe adorada . . .

"Que cada um cumpra sua sorte
"Das mãos de Deus recebida:
"Pois só pode dar a Morte
"Aquele que dá a Vida!"

São Francisco (Vinícius de Moraes)

Lá vai São Francisco
Pelo caminho
De pé descalço
Tão pobrezinho
Dormindo à noite
Junto ao moinho
Bebendo a água
Do ribeirinho.


Lá vai São Francisco
De pé no chão
Levando nada
No seu surrão
Dizendo ao vento
Bom-dia, amigo
Dizendo ao fogo
Saúde, irmão.


Lá vai São Francisco
Pelo caminho
Levando ao colo
Jesuscristinho
Fazendo festa
No menininho
Contando histórias
Pros passarinhos.

Maria vai com as Outras (Sylvia Orthof)

Era uma vez uma ovelha chamada Maria. Onde as outras ovelhas iam, Maria ia também. As ovelhas iam para baixo Maria ia também. As ovelhas iam para cima, Maria ia também.
Um dia, todas as ovelhas foram para o Pólo Sul. Maria foi também. E atchim! Maria ia sempre com as outras. Depois todas as ovelhas foram para o deserto. Maria foi também.
- Ai que lugar quente! As ovelhas tiveram insolação. Maria teve insolação também. Uf! Uf! Puf! Maria ia sempre com as outras.
Um dia, todas as ovelhas resolveram comer salada de jiló.
Maria detestava jiló. Mas, como todas as ovelhas comiam jiló, Maria comia também. Que horror! Foi quando de repente, Maria pensou:
“Se eu não gosto de jiló, por que é que eu tenho que comer salada de jiló?”
Maria pensou, suspirou, mas continuou fazendo o que as outras faziam.
Até que as ovelhas resolveram pular do alto do Corcovado pra dentro da lagoa. Todas as ovelhas pularam.
Pulava uma ovelha, não caía na lagoa, caía na pedra, quebrava o pé e chorava: mé! Pulava outra ovelha, não caía na lagoa, caía na pedra e chorava: mé!
E assim quarenta duas ovelhas pularam, quebraram o pé, chorando mé, mé, mé! Chegou a vez de Maria pular. Ela deu uma requebrada, entrou num restaurante comeu, uma feijoada. Agora, mé, Maria vai para onde caminha seu pé.

A Bailarina (Cecília Meirelles)

Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.

Não conhece nem dó nem ré
mas sabe ficar na ponta do pé.

Não conhece nem mi nem fá
mas inclina o corpo para cá e para lá.

Não conhece nem lá nem si,
mas fecha os ohos e sorri.

Roda, roda, roda com os bracinhos no ar
e não fica tonta nem sai do lugar.

Põe no cabelo uma estrela e um véu
e diz que caiu do céu.

Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.

Mas depois esquece todas as danças,
e também quer dormir como as outras crianças.

O Mosquito Escreve (Cecília Meirelles)

O mosquito pernilongo
trança as pernas, faz um M,
depois, treme, treme, treme,
faz um O bastante oblongo,
faz um S.

O mosquito sobe e desce.
Com artes que ninguém vê,
faz um Q,
faz um U, e faz um I.

Este mosquito
esquisito
cruza as patas, faz um T.
E aí,
se arredonda e faz outro O,
mais bonito.

Oh!
Já não é analfabeto,
esse inseto,
pois sabe escrever seu nome.

Mas depois vai procurar
alguém que possa picar,
pois escrever cansa,
não é, criança?

E ele está com muita fome.

12/04/2010

não vou (e nem quero) me adaptar

Ando encontrando uma dificuldade em sintonizar os canais da minha vida. Percebo que um lado está totalmente ajustado, mas o outro vive em desencontro. A verdade é que eu não caibo mais nas roupas que eu cabia...

O que antes eu achava bacana, ou suficiente, hoje não me aquece, nem me interessa mais. Ficou tudo ultrapassado na minha moda. Eu fico com um pé no mais completo exercício da felicidade versus a sabatina de ter que aturar o que não tá nem de perto nos meus planos de daqui a 5 minutos.

Mas e agora José? Passo a borracha? Viro as costas que é minha vontade?

Vixe, tô é numa enrascada. Mas o melhor de tudo, ou pior, é que talvez eu ainda não saiba o que quero, mas já tenho certeza absoluta do que não.

Ai, ai!

06/04/2010

inspirado em fatos reais: Senioridade

Já sei, na ponta do pé... hummm!! ah, espichando o olho. Se eu correr lá atrás dá certo, poxa nada disso, nada! Mas o que será que tem lá em cima? Detrás dessa caixa gigante de madeira, que todo mundo chama de balcão? Mamãe encosta o braço por ali e bufa. Porque tá brava se ela enxerga tudo? Eu queria muito saber o que se passa por ali, mas ninguém olha pra cá.! Ninguém atende meu chamado, e ó que eu puxo a blusa dela, e do papai também, que chega aqui, dá só uma espiada, e vai lá pra fora sei lá porque. Deve ser tão legal poder ver o que tá acontecendo. Ahn já sei. Um cantinho deve ter, daqueles que a gente põe os olhos e pisca por causa do ventinho. Uma vez veio no vento um fiapinho de madeira, um pózinho que me tirou a alegria. Cocei tanto o olhinho aquele dia, ficou vermelho e tudo, minha irmã mais velha disse bem feito por eu ser inxiridinho, mas ela consegue enxergar tudo também, por isso é chata desse jeito. Hannn, deixa ver, aqui. Não... ali parece que.. não! Humpf! Há de ter um cantico de nada. Eu gosto de cantos, os estreitinhos são os melhores. Lá em casa embaixo da escada, no meio das caixas das cortinas que mamãe não usa mais, e não deixa ninguém usar é bem legal. Pra entrar ali tem um segredo! Tá vou contar vai, só pra você... Tem que entrar bem de ladinho senão não passa, assim abaixando, e de lado, sabe? é um esconderijo. Mas por aqui??? Olha!!! quem tava lá na frente parece que vai embora. Porque tanta gente fica querendo o mesmo lugar? E do outro lado? Por onde essa voz que fala e grita, entrou ali? não tem porta! Nossa quanta coisa que eu não sei só porque não vejo... to ficando triste. Ah, tá... idéia! Vou perguntar pro vovô como ele advinha tudo, porque ele também não enxerga, mas ele sabe, ué. Mamãe me leva na casa da vovó? Eu tenho um assunto muito importante pra tratar com o vovô, eu tenho coisas pra dizer pra ele. Me leva? agora? hoje? mas vc leva? jura? pode? .......... Ô vô.. como você faz pra enxergar tudo o que não consegue? Você estica o pé? espicha o olho?, corre pra trás? pede colo? Como vc faz? hein? hein?
Não filho, eu espero! Esperando, sossegado, sem aflição, nem desespero, a gente enxerga mais do que todo mundo.
Até de olhos fechados? É!! mesmo de olhos fechados.
Ahhhhh!

Não gostei, não.

29/03/2010

escreverei

Vou viver de escrever.
Textos, poemas, amizades, verdades e algumas boas mentiras.

Escrever pra ler, pra amassar. Quero viver assim, escrevendo e vendo a vida pelas linhas, ver que me vêem também da mesma maneira ou de formas imaginativas, interpretadas a cada modo, e eu ali exposta sem receio. Dedicada a ofertar frases, muitas, tristes, infantis, hilárias, quaisquer.

Vou viver de escrever.
Comer letras, encher-me de contos. Vou roer os dentes quando falta o dicionário, vou procurar sinônimos, antônimos, confissões.
Quero publicá-las, sentar na janela e abrir a caixa. Ter prazer. Ter tempo. Ter o futuro e o passado. Ser presente.

Vou viver, e escrever. Tá resolvido.

intensi viva mente

Mergulha, decola, derrama o leite. Corre conta o vento, grita, pula pra alcançar o último galho. Vira, arrasta, agarra nas pernas, chora o pranto e o desencanto, aumenta o som. Sai de saia, vira as costas, dá de ombros, ri até as lágrimas. Esbarra e empurra, puxa mais forte, gira e gira até a tontura, troca de roupa, cem vezes. Anda descalça, no asfalto quente. Mostra os dentes. Não deixa pra lá, volta pra ver, morre de sede, bate no peito, dá algum jeito. Entra de lado, rasteja, vira a mesa, a toalha arranca, abre as trancas, solta as tranças e vai. Vai andando, pra frente, não olha nem que chamem, segue. Se olha pára, e espalha tudo. Dança e balança em todos os ritmos, fecha os olhos no meio da rua, faz nudismo. Pede perdão, dá a mão. Fica na moita, açoita, mas dá tua palavra. Sempre, vigente, tua palavra solene e fica nela. Aí sim, estás pronta pra não entender, ou pra saber que não se entende se não se vive, intensamente.

18/03/2010

do singelices


EU E MEUS VELHINHOS (Ana Paula Marques)

Já disse aqui que gostava muito do sr Mindlin.
Hoje li sem querer uma homenagem feita para ele depois de sua morte. Adorei essa parte:

"Nunca se dedicou exclusivamente a nada, sendo exemplar em tudo o que fez. Seu caminho foi traçado pelo acaso e construído por ele mesmo, sempre impulsionado pelo mais poderoso de todos os elixires da juventude: a alegria."


E eu AMO!!!!!!!!!! AMO!!!!!!!!!! AMO!!!!!!!!!!!!!!!!

16/03/2010

equilibristas

Tirar daqui, cobrir ali, mexer do outro lado, puxar, esticar, cobrir um santo, descobrir outro. Dias assim, equilibrando fatos, gastos, pontos, encontros e desencontros. Chato isso, mas a verdade é que se vai aprendendo, e se vai. Dias sim, dias não, dias assim, de novo. Liga, pede, implora, atende. Volta, devolve, defende. Pergunta, responde, finge que saiu, finge que chegou, ri, chora, fazer o que. O que tem pra fazer? hoje, só hoje, sem pensar em depois. E incrivelmente chega a noite e outro dia começa com duas varetas numa mão e quinhentos pratos na outra. Mãos a obra, meu bom.

15/03/2010

Camila


A Camila nasceu dia 12, de peixes, carinha redonda e na paz.

A pequena Tomaz de Aquino dos Anjos, tem nome de santo e de graças, e veio até a gente pra fazer uma galera que andava meio quietinha cair na gargalhada. Alegria de nascimento, de bebezinho novo no pedaço, de cheiro do leite materno, de cara de pai abobalhado de tanto amor.

A gente tá feliz que só.

Camila minha doce pequena, venha com tudo pra esse mundão, ajude a gente a ser melhor, mais alegre e mais amoroso. Seja muito feliz nesta estrada, e corra por ela, sem medo, com prudência.

Me aguarde aí, na Páscoa vou te dar uma mordidinha bem na ponta do nariz.

11/03/2010

passando a rebentação

A gente percebe que as fases ruins vão passar quando sinais aparecem.
Hoje um gesto tão simples me fez reviver quem eu gosto de ser.

Há um ano e meio eu caí, quebrei a perna feio, fiquei mal. Pouca gente soube, até porque a minha tolerância a dor sempre foi grande, mas a verdade é que doía muito. A noite, dormir era uma luta, a perna latejava e eu sentia a placa de aço lá dentro conversando comigo, dizendo pensa, pensa na dor. De manhã, ela inchava e a dor era constante pelo dia todo, sem parar um minutinho. Juro que os incômodos das muletas, de descer escadas, do banho, do medo de escorregar, de escorregar mesmo com medo, e até de não poder pegar meus filhos no colo foi o de menos nessa história. A dor era a protagonista.

Ainda ela é, mas dói muito menos agora, só que ainda dói quando tento correr, andar rápido, usar meus saltos (mas eu uso) quando o tempo esfria, e sobretudo quando quero dançar. Não consigo mais dançar igual antes, um dos meus maiores prazeres, e essa constatação dói mais que a própria dor.

Mas fiz essa declaração aqui porque tá na hora do perdão.

Foi a partir dessa dor que tudo começou a me provocar, que outras dores eu tenho tido que enfrentar, que me fazem perguntar todos os dias coisas do tipo porque assim? porque ela? porque ele?, e depois mais cedo ou tarde do que eu gostaria, infalivelmente chegam as respostas.

Eu fiz escolhas na vida, ganhei amigos, perdi também. Fui fiel no trabalho, na carreira, nas histórias. Fui distraída, imatura, mas nunca fui cruel. Aprendi com meus pais que é melhor ser só a gente mesmo. Tá de bom tamanho querer apenas a vida que nos foi presenteada, e eu sou uma sortuda. Mas aprendi também que a dor não quer saber de sorte, dor vem pra te mostrar que é preciso sentir na pele, que quebras são necessárias, rupturas são preciso. É também uma fase da tua vida, então comece aceitando e agradecendo.

Eu tenho me perdoado, e perdoado quem não me perdoa. E eu gosto da palavra perdão. E eu tenho coragem de dizer isso. E as fases passam, as boas e as ruins, que demoram mais, mas ambas passam.

A minha fase ruim tá passando, muito já se foi, ufa!. Mesmo ainda com tapas na cara, com um bocado de tristeza. Mesmo com amigos me virando as costas, outros só assistindo de binóculo, mas sobretudo com na verdade os únicos, e melhores, tão poucos, bem perto.

Tati, mãe da pequena Maria Flor, Abreu - quero dizer que receber seu comentário hoje num post meu foi de uma importância que você nem desconfia. Ver que depois de tanto tempo, de tão longe, você entendeu cada letra do que eu quis dizer em duas linhas, é o meu sinal.

Então, hoje, que realmente acredito que menos é mais, por nós duas, e todo mundo que acredita, quero dizer que ganhei o dia, que tá tudo certo, e que esqueci a dor.

guardadinho

eu sou

Minha foto
Gosto de boniteza, de arrumação, da moda dos anos 30. De margaridas e pérolas verdadeiras. Gosto da noite, de gente dando risada, do colorido de um prato de feijoada. Gosto de sair e de mudar, gosto de família, de amigos e com eles estar. Gosto de dança e de criança, e gosto muito, muito do mar.